top of page

Sacrifício asteca

Atualizado: 14 de jul. de 2023

Matéria


Estátua do deus asteca Xochipilli (o Príncipe das Flores), 1450 – 1500 d.C.

Estátua do deus asteca Xochipilli. (CC BY-SA).


A religião da civilização asteca ganhou uma péssima reputação de sacrifício humano com histórias sinistras de coração sendo arrancado da vítima ainda consciente. Essa religião floresceu na antiga Mesoamérica de 1345 – 1521 d.C. Esses contos de decapitação, esfolamento e desmembramento aconteceram, mas é importante ressaltar que para os astecas o ato de sacrifício, onde o humano era apenas uma parte, era um processo estritamente ritualizado dando maior honra aos deuses e era considerado necessário para garantir a prosperidade da humanidade.


Origens e Propósito

Os astecas não foram os primeiros a praticar o sacrifício humano na Mesoamérica, pois possivelmente foram os olmecas (1200 – 300 a.C.) que iniciaram esses rituais no alto de suas pirâmides sagradas. Civilizações como os maias e toltecas, continuaram a prática. Os astecas levaram o sacrifício a uma escala sem precedentes, embora o ato do sacrifício tenha sido exagerado pelos primeiros cronistas durante a conquista espanhola. Acredita-se que centenas, e até milhares de vítimas foram sacrificadas a cada ano nos locais religiosos astecas.



Os rituais de sacrifícios humanos na cultura mesoamericana eram vistos como uma forma de retribuição aos deuses pelo que eles fizeram na criação do mundo e do sol. A ideia de pagamento pelos feitos dos deuses está explicita na relação ao mito do monstro reptiliano Cipactli (ou Tlaltecuhtli). A lenda asteca conta que os grandes deuses Quetzalcoalt e Tezcatlipoca despedaçaram a criatura para criar à terra, o céu, as montanhas, os rios e nascentes. Como consolação, os deuses prometeram ao espírito de Cipactli, corações e sangue humanos. Outra visão é que os sacrifícios eram uma forma de compensação aos deuses pelo crime que causou a humanidade na mitologia asteca. Esse mito conta que Ehtecatl-Quetzalcóatl roubou ossos do Submundo para fazer os primeiros humanos que teriam que ser sacrificados como pedido de desculpas aos deuses.

“Alimentados” e “nutridos” com o sangue e a carne dos sacrificados, os deuses garantiam o equilíbrio e a prosperidade contínua da civilização asteca. A carne era queimada ou o sangue era derramado sobre as estátuas dos deuses para que pudesses participar diretamente dos rituais. Um exemplo perfeito de “alimentação” dos deuses eram as cerimônias para garantir que Tezcatlipoca, o deus sol, estivesse bem alimentado, de modo que tivesse forças para levantar o sol todas as manhãs.


Sacrifícios não humanos

A automutilação e a queima de tiras de papel embebidas em sangue eram uma forma comum de sacrifício, assim como a queima de incenso. Existiam outros tipos de sacrifícios que incluíam a oferta de outras criaturas vivas, como veados, borboletas e cobras. Alimentos e objetos de metais preciosos eram entregues para os deuses desfrutarem. Uma das mais interessantes oferendas eram as imagens de deuses em massa (tzoalli). Essas imagens eram feitas de amaranto moído, sangue humano e mel, com a efígie sendo queimada ou comida após o ritual.


Preparando as Vítimas

As vítimas dos sacrifícios eram, em sua maioria, prisioneiros de guerra. Muitas vezes o único propósito da guerra era fornecer cativos para o sacrifício. Essas guerras foram chamadas de “guerra florida”, em que combatentes astecas se contentavam em levar o número de cativos suficiente para o sacrifício, onde o estado de Tlaxcala oriental era o campo de caça favorito. Os guerreiros que lutavam com mais bravura eram considerados os melhores candidatos ao sacrifício e qualificado para agradar os deuses. Os sacrifícios eram considerados uma grande honra e uma comunhão direta com um deus.


Vítimas também eram escolhidas através dos jogos de bola em que o capitão derrotado ou até mesmo toda a equipe seriam usados nos rituais astecas. Para homenagear, em particular, a deusa da chuva Tlaloc, crianças eram usadas nos sacrifícios que eram realizados nas montanhas sagradas. Os astecas acreditavam que as lágrimas das crianças sacrificadas propiciavam chuva. Outro grupo social eram os escravos que podiam acompanhar seu governante na morte ou ser ofertados por comerciantes para garantir a prosperidade nos negócios.



Indivíduos especiais eram escolhidos para os sacrifícios. Essas honradas vítimas eram os imitadores de deuses, que eram vestidos como um deus particular antes do sacrifício. Um exemplo desse tipo de sacrifício é o do imitador de Tezcatlipoca no ritual durante o Tóxicatl, em que a vítima foi tratada como realeza por um ano antes da cerimônia. Presenteado com uma comitiva feminina e homenageado com danças e flores até o momento brutal final quando iria conhecer seu criador. Talvez pior fosse o imitador de Xipe Totec que, no clímax do festival de Tlacaxipehualiztli, foi escolado para homenagear o deus conhecido como o ‘Esfolado’.



Bibliografia

Almere Read, K. Mesoamerican Mythology. Oxford University Press, EUA, 2002.

Jones, D. Mythology of Aztec & Maya. Southwater, 2007.

Miller, ME The Art of Mesoamerica. Thames & Hudson, 2012.

bottom of page