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A execução de Lady Jane Grey. Por Paul Delaroche. (CC BY-NC-ND)
Lady Jane Grey nasceu em Bradgate, Leicestershire, Inglaterra, em outubro de 1537 d.C., filha de Henry Grey, Duque de Suffolk (1517 – 1554) e Lady Frances Brandon. Em 21 de maio de 1553 d.C., Lady Jane se casou com o Lord Guildford, o filho do homem mais poderoso do reino, John Dudley. Para aumentar ainda mais seu poder, Dudley fez com que as duas irmãs mais novas de Jane, Catherine e Mary, se casassem com dois de seus apoiadores.
O rei Henry VIII da Inglaterra (latinizado como Henrique VIII) determinou que, se porventura, seu único filho homem (Edward VI) falecesse sem herdeiros, sua filha mais velha (Mary Tudor) e meia-irmã de Edward se tornaria rainha. Mary Tudor (conhecida também como Bloory Mary), era uma católica convicta, e sua sucessão certamente reverteria a Reforma Anglicana. Visando salvar a própria pele, John Dudley deixou a reforma em segundo plano e convenceu Edward a nomear Lady Jane Grey ao invés de Mary para a sucessão do trono inglês. O documento de nomeação ficou conhecido como “plano de sucessão” que deserdou Mary e sua meia-irmã Elizabeth, declarando-as bastardas. Jane Grey, aos 16 anos, foi surpreendida com a notícia de que seria a nova rainha da Inglaterra – embora ela não soubesse que o rei havia morrido – ela protestou contra a decisão, alegando que ela não seria a escolha certa.
O plano de Dudley parecia perfeito se não fosse pelo erro de deixar Mary livre. Ela tinha grande apoio e conseguiu fugir para a segurança de suas propriedades em Norfolk. Em seguida, os nobres (simpatizantes de Mary) e seus exércitos se uniram a ela no Castelo de Framlingham. No dia 19 junho, Mary autodeclara-se rainha da Inglaterra. Em vários lugares estavam nobres e plebeus, unidos na mesma disposição para realizar a vontade de Henry VIII. Ao mesmo tempo, uma tropa de 30.000 homens marchava para Londres em nome de Mary. Em 21 de julho, Dudley foi preso em Cambridge quando tentava capturar Mary.
Em 3 de agosto de 1553, Mary foi recebida por uma multidão polvorosa e devota a sua nova rainha. Em seguida, Jane Grey declarou esta feliz pela chegada de sua prima, e finalmente poderia retornar a sua vida normal, mas Jane Grey e seu marido foram confinados na Torre de Londres por ordem da rainha. Mary foi coroada em Westminster, tornando-se Mary I da Inglaterra em 1° de outubro de 1553.
Jane Grey viu seu palácio real se tornar sua prisão e lamentou pelos reformistas que foram, segundo ela, facilmente influenciados a votar em favor de Mary e da legitimidade real. Jane Grey escreveu em seu diário que não só os reformistas haviam mudado de lado, mas também o seu capelão. “Antes do meu confinamento ele [capelão] era um membro vivo de Cristo, mas depois da minha queda, ele se tornou o diabinho deformado do Diabo”. Ela também escreveu uma carta para Mary aceitando à culpa por supostamente tentar tomar sua coroa, mas deixando claro que não havia feito mal a nova rainha. Dudley, também confinado na Torre de Londres, excluiu Jane Grey de qualquer participação ativa em todo o processo. A princípio, ela seria libertada como havia ocorrido com outros prisioneiros, mas a rainha foi aconselhada a não libertar sua prima, sob a alegação de que ela certamente se tornaria um foco de rebelião. Em 22 de agosto de 1553, John Dudley, conde da Nortúmbria foi executado.
Determinada a elevar sua popularidade, Mary decidiu, através de suas convicções religiosas, devolver a Inglaterra ao catolicismo. Em 1553 d.C., pairava no ar, rumores de uma rebelião e de uma invasão espanhola planejada em seu reino. Visando impedir essa possível invasão por parte Espanha, em outubro do mesmo ano ela anunciou seu noivado com o filho do rei Carlos V da Espanha, o príncipe Filipe, inimigo católico número um do anglicanismo inglês. Em meio a esse clima incerto, o destino de Jane Grey foi selado, pois a rainha inglesa não poderia, de maneira alguma, permitir que sua prima viesse a se tonar a figura principal de um plano que poderia tomar o seu trono novamente. No dia 13 de novembro de 1553, Jane Grey foi julgada no Guildhall de Londres e condenada a ser queimada na fogueira. Mary assinou a sentença, mas mudou o método para decapitação. Esse documento assinado pela rainha Mary I da Inglaterra sobrevive até hoje. Em 1554, a decisão de condenar a morte sua prima se mostraria sabia, pois, um exército rebelde, liderado por Sir Thomas Wyatt e o pai de Jane Grey marchou sobre Londres na tentativa, mas sem sucesso, de um levante em Leicestershire.
O tempo que Jane Grey esteve presa na Torre de Londres foi bem documentado por Rowland Lee, um oficial da Casa da Moeda Real com sede na Torre. Jane Grey passaria longos seis meses como prisioneira, embora não houvesse celas na torre, ela e outros detentos ficavam confinados em apartamentos. Particularmente, Jane Grey teve direito a quatro atendentes, incluindo uma enfermeira, e chegou a receber 110 xelins por semana, sendo 90 xelins para ela e 20 xelins para pagar seus empregados. Jane Grey também podia passear pelos jardins da Torre e ter acesso a vários livros, mas tudo isso separada de seu marido.
Em 12 de fevereiro de 1554, a rainha Mary enviou seu capelão para questionar Jane Grey. A rainha queria saber se sua prisioneira estaria disposta a abdicar de sua religião protestante, mas a resposta de Jane Grey foi um “não” definitivo. Ela também recusou a oferta de ver seu marido uma última vez, declarando que eles “se encontrariam em breve em outro lugar”. Logo após os questionamentos do capelão, a sentença foi executada – tanto Jane Grey quanto seu marido foram decapitados dentro das paredes da Torre de Londres, contrariando o costume de executar prisioneiros na Tower Hill. Esse fato se deu por dois motivos: Jane Grey tinha sangue real; e Mary temia uma manifestação pública vinda de simpatizantes no momento da execução. Após relutar brevemente para encostar no bloco sobre o qual inclinaria a cabeça, Jane Grey falou suas últimas palavras: “Senhor, em tuas mãos entrego meu espírito.” (Jones, 244).
A decapitação de Lady Jane Grey foi uma resposta ao que tinha sido a maior desafio da dinastia Tudor.