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'Sea Stallion', réplica baseada nos restos do navio viking conhecido como Skuldelev 2, construído no século 11 dC em Dublin. Emma Groeneveld.
O navegador português Diogo de Silves chegou a uma ilha desabitada, e a batizou de Ilha de Santa Maria, em 1427. Outros exploradores que se seguiram revelaram que se tratava da ilha mais a sudeste do arquipélago dos Açores, a cerca de 1368 km a oeste da costa de Portugal.
Agora, pesquisadores afirmam que vikings foram os primeiros humanos a pisar nos Açores seis a sete séculos antes dos portugueses.
Um novo estudo realizado com amostras de sedimentos lacustres indicam que os portugueses podem não ter sido os primeiros conquistadores a chegar à ilha: os hábeis navegadores vikings podem ter chegado cerca de 700 anos antes de Diogo de Silves e sua tripulação. Quando os portugueses chegaram os vikings já tinham partido, mas roedores nórdicos podem ter deixado marcas genéticas na ilha.
O biólogo evolucionista da Universidade Cornell, Jeremy Searle e sua equipe propuseram uma ligação nórdica à ilha dos Açores em 2015, baseada em afinidades genéticas entre ratos dos Açores e do norte da Europa.
Estudos conclusivos sobre a ocupação humana nos Açores são dispersos e datam apenas do início do século XV. Em 2011, o ecologista Pedro Raposeiro e colegas extraíram núcleos de sedimentos em cinco leitos de lago ao redor do arquipélago, tentando detalhar a história do clima na região. Eles esperavam encontrar pólen de colheitas não nativas, esporos de fungos que crescem no esterco de gado, datando do século XV.
Surpreendentemente, em uma camada sedimentar com datação entre 700 d.C. e 850 d.C., retirada do Lago Peixinho, na Ilha de Pico, nos Açores, os especialistas notaram um aumento inesperado de um composto orgânico conhecido como 5-beta-estigmastanol, comumente encontrado em fezes de ruminantes, como vacas e ovelhas. Os pesquisadores observaram também um aumento nas partículas de carvão e uma queda na fartura de pólens de árvores nativas.
Dados semelhantes apareceram em testemunhos do Lago do Caldeirão, na Ilha do Corvo, datando por volta de 900 d.C. O pólen de um azevém não nativo aparece em outras partes do arquipélago dos Açores como, a Ilha do Pico, com datação de cerca de 1150 e na Ilha de São Miguel, datando de 1300.
O estudo sugere que humanos habitavam e exploravam os recursos naturais dos Açores pelo menos 750 anos antes do que se pensava. A equipe explica que não está claro quando esses pioneiros dos Açores desapareceram, o que se sabe é que os exploradores portugueses descreveram o arquipélago como intocado em 1400.
Raposeiro acredita que os primeiros marinheiros a chegar nos Açores foram os nórdicos, que eram navegadores habilidosos e aventureiros. Há vários registros de que os vikings navegavam e saqueavam as costas do norte e oeste da Europa em 789 d.C. Simulações climáticas para esta época indicam que os ventos no Oceano Atlântico Norte sopravam do nordeste, e teriam levado os navios vikings rumo ao sudoeste da Escandinávia diretamente no caminho dos Açores.
Em 2015, Searle e sua equipe documentaram que ratos domésticos dos Açores compartilham uma quantidade considerável de DNA com as populações de ratos domésticos que são originários da Europa. Possivelmente, esses ratos pegaram carona nos navios Vikings e encontrado uma ilha com grandes recursos. Os ratos são como “artefatos vivos” da presença viking, diz ele.
O geógrafo da Australian National University, Simon Connor, afirma está convencido que humanos estavam nos Açores por volta de 700, mas ainda não se convenceu de que eles eram nórdicos.
Connor explica que ventos desfavoráveis não teriam impedido marinheiros portugueses de chegar aos Açores. Com relação aos ratos, graças às rotas comerciais, um roedor da Escandinávia poderia ter embarcado num navio em Portugal e navegado para o arquipélago dos Açores. Os primeiros humanos a ocupar os Açores podem ter sido qualquer um.
Fonte: Science e The Guardian