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O Mito da Guerra de Troia

Atualizado: 30 de jan.

Artigo


O Mito da Guerra de Tróia - História em Destaque

Ruínas da antiga cidade de Tróia. Imagen de Seckin, no Pexels.


Em algum momento você já deve ter lido ou ouvido falar do Cavalo de Madeira de Troia, da cidade de Troia, da Guerra de Troia e de Helena, a mulher mais bela do mundo.


O mito de Troia é uma das maiores histórias já contada de todos os tempos. Mas há muito mais no antigo mito de Troia.


A mais de 3.000 anos, a história de Troia e de sua guerra é contada e difundida por contadores de histórias viajantes, pelas palavras do poeta grego Homero já no século VIII a VII a.C., e por meio de imagens artísticas de antigos gregos e romanos. A história fascinou o público no passado, e ainda hoje fascina por ser uma história que tem de tudo – amor e perda, coragem e paixão, violência e vingança, triunfo e tragédia – em escala épica.



A lenda acontece no passado mítico da Grécia. No centro do conto está a imponente cidade de Troia, localizada na costa oeste da Anatólia (atual Turquia), mencionada pelos gregos que navegaram pelo Mar Egeu para se vingar de uma grave afronta – o rapto de uma mulher. A história dessa guerra mundial apresenta personagens lendários, envolvendo até os deuses.


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Mas está longe de ser uma lenda simples. Seus heróis são complexos, com força heroica, mas com a fraqueza dos humanos, e no final, não fica claro quem vence, ou se alguém realmente vence.


A Guerra de Troia foi um conflito lendário entre os gregos e troianos, travada na região da Anatólia (conhecida também como Ásia Menor), em algum momento do final da Idade do Bronze (por volta de 1200 a.C.). Essa história pode ter realmente ocorrido, mesmo que sua representação na Ilíada de Homero seja certamente mais mito que realidade.



Esse conflito moldou a forma como a cultura grega antiga era vista até o século XXI. Os contos sobre deuses e heróis é possivelmente uma das mais ricas fontes sobreviventes da antiguidade. Eles nos apresentam narrativas sobre guerra, costumes, religião e comportamentos dos antigos gregos.


Helena e Páris

Praticamente tudo que sabemos sobre a Guerra de Troia vem da Ilíada de Homero – escrita em algum momento do século VIII a.C. – onde ele descreve os acontecimentos do último ano do conflito de dez anos. Para os gregos, a guerra teria ocorrido em algum momento do século XIII a.C. No entanto, estudos revelaram que a Guerra de Troia vinha de uma longa tradição oral anterior à obra de Homero.



Na tradição grega, o início da Guerra de Troia foi uma maneira de Zeus reduzir a população – que se tornava cada vez maior – de maneira prática, como uma expedição para resgatar Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta e irmão de Agamenon. A história conta que Helena foi levada por Páris, príncipe de Troia, como prêmio. Em retaliação, os gregos exigiram o retorno de Helena, e planejaram uma maneira de vingar o atrevimento troiano.


O exército grego

Os gregos organizaram uma coalizão (chamada por Homero de arcaianas), liderada pelo rei Agamenon de Micenas. Entre as regiões e cidades integrantes estavam: Phocia, Eubéia, Atenas, Boiotia, Argos, Arcádia, Esparta, Corinto, Creta, Rodes, Cefalônia, Magnésia e as Cíclades. De acordo com Homero, as forças militares tinham ‘dezenas de milhares’ de homens.



Entre os gregos havia heróis e líderes que eram os maiores guerreiros que demonstrava coragem no campo de batalha. Alguns deles tinham pai ou mãe divino, enquanto outros, o pai era mortal, criando uma conexão genealógica entre deuses e humanos comuns. Entre os mais importantes estava Aquiles, Ajax, Diomedes, Odisseu, Pátroclo, Menestheus, Antilokus e Idomenus.


Segundo os relatos de Homero, os gregos tiveram a ajuda direta e indiretamente dos deuses do Olimpo: Poseidon; Atena; Hefesto; Hera; Hermes; e Tétis. Esses deuses tinham seus favoritos entre os guerreiros que lutavam em Troia e constantemente os protegiam no calor da batalha, levando-os para um lugar seguro e longe do perigo.


O Exército de Troia

Príamo, rei de Troia, liderou as forças que defendiam a cidade, com a ajuda de vários aliados, incluindo os halizones, cários, kikones, lícios, kaukones, mísios, paionianos, pelasgos, frígios e trácios. Os troianos também contavam com a ajuda de seus heróis semideuses, incluindo Heitor (filho de Príamo), Sarpedon, Enéias, Glaucus, Phorkys e Rhesos. E tiveram a assistência dos deuses: Ares; Leto; Apolo e Afrodite.



Batalhas importantes

A Guerra de Troia foi basicamente um longo cerco a cidade, que foi capaz de resistir aos invasores, graças a suas magníficas fortificações. Na mitologia grega, essas muralhas foram erguidas por Apolo e Poseidon por ordem de Zeus. No entanto, ocorriam também batalhas fora da cidade que eram travadas por homens que lutavam, às vezes com carros, mas principalmente a pé, usando lanças e espadas. Ao longo de dez anos a guerra foi travada nas planícies de Troia, mas as batalhas decisivas parecem ter sido travadas no último ano do cerco.


Páris x Menelau

Quando as forças lideradas pelo espartano Menelau e o exército de Páris avançaram um contra o outro, – Páris provoca o mais bravo entre a coalizão grega ao combate. E quando o rei Menelau vai ao seu encontro, Páris busca refúgio entre os troianos. Após a repreensão de seu irmão Heitor, Páris propõe um combate com Menelau do qual Helena seria o prêmio. Após os dois guerreiros concordarem com a luta, eles tiraram à sorte para saber quem proferiria o primeiro golpe com a lança. O vencedor do jogo foi Páris que arremessou sua lança primeiro, mas foi um ataque inofensivo que parou no escudo de Menelau. Então foi a vez do rei grego arremessar sua arma, e o fez com tremenda força, atravessando o escudo e a armadura de Páris quase levando-o a morte. Entretanto, Menelau não parou por aí, e desferiu um golpe com sua espada no capacete do príncipe troiano, e quando Páris estava prestes a sucumbir, Vênus o livra dos golpes de Menelau, e o transporta para o leito nupcial. Então Agamenon reclama para seu irmão o prêmio da vitória.



Heitor x Ajax

Inspirado pelas duas divindades – Apolo e Minerva – Heitor desafia Menelau para um combate, mas Agamenon intervêm e assumi o lugar de seu irmão. No entanto, nove guerreiros se apresentam para lutar com o troiano. Entre os guerreiros, Ajax, filho de Telamon é escolhido. A disputa começa, e os dois combatentes arremessam suas lanças, mas sem efeito para ambos. Em seguida, Heitor lança uma grande pedra no grego, mas Ajax se defende com seu escudo, revidando com uma pedra ainda maior, e quebra o escudo de Heitor. Nesse momento, eles desembainham suas espadas e iniciam um combate corpo a corpo, mas logo são interrompidos por seus companheiros que pedem o fim da luta, pois a noite se aproximava. Naquele tempo havia o respeito ao código de honra, e os dois guerreiros se cumprimentaram de forma amigável e trocaram presentes – Heitor presenteou o grego com uma espada com cabo de prata, e Ajax retribuiu o presente com uma magnífica faixa roxa. Com o fim do combate, Nestor propôs suspender a guerra para enterrar os mortos. Já Antenor, sugeriu devolver Helena e pôr um fim no conflito, mas foi repreendido por Páris, que contestou veemente.



Ataque dos navios gregos

Após um intenso dia de luta, Diomedes e Ulisses saem em uma expedição noturna, invadem o território troiano e roubam os cavalos de Reso. Mesmo com essa breve façanha, Agamenon e os gregos são obrigados a recuar. O sábio Nestor sugere a Pátroclo que vista a armadura de Aquiles e assuma o seu lugar caso ele não volte ao combate. Liderados por Heitor, os troianos deflagaram um ataque às muralhas do acampamento grego, rompendo parte da muralha e destruindo os portões, e os troianos adentraram precipitadamente. No entanto, Zeus se distrai ao fazer amor com Hera, e Poseidon aproveitou a oportunidade para ajudar os gregos que se reuniram e obrigaram os troianos a recuar. Zeus percebe a distração e ameaça os deuses com violência se voltarem a interferir na batalha. Então a maré da batalha muda novamente com Poseidon recuando, e Apolo destruindo as defesas gregas. O inspirado Heitor, em seu melhor momento, conduz os troianos até as embarcações gregas.



A nova armadura de Aquiles

No momento que os troianos se recuperam no campo de batalha, Pátroclo foi despido da armadura por Apolo e morto por Heitor. Então, uma feroz batalha pelo corpo de Pátroclo é iniciada, e Heitor veste a armadura deste. Os gregos retornaram ao acampamento com o corpo de Pátroclo, informando da morte a Aquiles, que assume a culpa pela morte do amigo e anuncia sua vingança contra Heitor. Aquiles ganha nova armadura feita por Hefesto – o mestre artesão do Olimpo – inclusive seu célebre escudo.


Heitor x Aquiles

Aquiles fez as pazes com Agamenon, e revelou que desejava com urgência vingar a morte de seu amigo Pátroclo. Heitor estava sozinho do lado de fora dos muros da cidade quando avistou Aquiles. O príncipe troiano foi aconselhado pelo deus Apolo a fugir e buscar refúgio em um lugar seguro, mas foi perseguido por Aquiles ao redor das muralhas até ser capturado e morto. Contrariando os costumes das guerras antigas, Aquiles despiu o corpo de Heitor e o arrastou para o acampamento grego. Este foi considerado um ato extremamente desonroso.


Morte de Heitor (Aquiles arrastando o corpo de Heitor), pintado por Gavin Hamilton (c. 1723-1798).


Após assassinar o príncipe troiano, o grande guerreiro Aquiles organizou os jogos fúnebres e assim o corpo de Pátroclo foi cremado. Com o apoio dos deuses, o rei Príamo (pai de Heitor) foi até o acampamento de Aquiles disfarçado, na calada da noite, para tentar liberar o corpo do seu filho – ele obteve sucesso.


É nesse ponto que a Ilíada termina, mas a guerra ainda guardava algumas surpresas.



Cavalo de Troia e a Vitória

O mito da Guerra de Troia traz outros episódios mais emocionantes, incluindo a luta de Aquiles, a morte do rei Memnon e da amazona Pentesileia, que vieram apoiar os troianos. O próprio Aquiles foi morto por uma flecha disparada por Páris, que atingiu seu único ponto fraco, seu calcanhar. Os guerreiros Ajax e Ulisses lutaram pela armadura do herói, e Ajax acabou enlouquecendo após perder o prêmio. Ele matou um rebanho de ovelhas pensando serem gregos, e confuso caiu sobre sua espada em um suicídio sem sentido. Páris foi morto por Filoketes que usou o arco de Hércules para vingar a morte de seu amigo Aquiles. Disfarçado, Odysseus conseguiu entrar na cidade e roubar a estátua sagrada Palladion de Atena.


Cavalo de madeira usado no filme Troia, e doado a cidade de Canakkale, Turquia. Imagem Seckin, no Pexels.


A guerra tem seu ato decisivo com a ideia do cavalo de madeira. Odysseus teve a ideia de colocar um grupo de guerreiros dentro das muralhas da cidade de Troia. Os gregos foram embora pelo mar, deixando o misterioso presente para os troianos (um gigantesco cavalo de madeira), mas Sinon ficou para trás com a missão de contar a história dos gregos terem deixado o presente, e assim garantir que os troianos levassem o cavalo para dentro da cidade. Após ouvir os argumentos de Sinon, os troianos deslocaram o grande cavalo de madeira para dentro de suas muralhas, e enquanto eles aproveitavam uma grande celebração de sua vitória, os guerreiros gregos saíram do cavalo e abriram os portões da cidade para que as tropas gregas entrassem. A cidade de Troia foi saqueada e a população massacrada ou escravizada.



No entanto, o ataque não agradou os deuses devido à devastação da cidade e de seu povo, e de atos como o estupro de Cassandra. Eles puniram os gregos com fortes tempestades que destruíram seus navios, e aqueles que conseguiram retornar foram obrigados a suportar uma prolongada e difícil viagem de volta para casa.


Troia e a arqueologia

Ao longo do tempo pesquisadores debatem sobre a real existência da cidade mítica de Troia. Um sítio arqueológico descoberto na Anatólia revelou os vestígios de uma cidade que prosperou ao longo de milhares de anos. A maioria dos arqueólogos acredita que as escavações revelaram a cidade da Ilíada de Homero.


Ruínas do Sítio Arqueológico de Troia - História em  Destaque

Ruínas do Sítio Arqueológico de Troia. Imagem Seckin, no Pexels.


Troia VI (c. 1750 – 1300 a.C.) é uma forte candidata para a provável cidade da Guerra de Troia de Homero. As muralhas das fortificações com diversas torres. A cidade baixa cobre cerca de 270.000 m² protegidos por uma vala circunvizinha, sugerindo uma grande cidade como a lendária Troia.



Os estudos arqueológicos descobriram que Troia VI foi parcialmente destruída, mas a causa não conhecida além de algumas evidências de fogo. Foram encontrados no local vários objetos, incluindo pontas de lanças e de flechas de bronze, e algumas dessas pontas estavam encravadas nas paredes da fortificação, sugerindo algum tipo de batalha. A datação dos itens e da destruição do local se correlacionam com as datas da Guerra de Troia de Heródoto. Ao longo dos séculos, provavelmente ocorreram diversos conflitos entre as civilizações micênica e hitita, tendo como principal motivo a expansão territorial e controle do comércio. Entretanto, os pesquisadores acham improvável que tais conflitos tenham sido da escala da guerra de Homero, mas eles podem ter sido a origem do conto épico da Guerra de Troia.



Bibliografia

Cartwright, Mark. "Trojan War." World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 22 março de 2018. Acesso 31 de julho 2023




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