top of page

O extinto lobo japonês pode revelar pistas sobre as origens dos cães

Atualizado: 6 de fev. de 2023


Extinto lobo japonês - História em Destaque

Lobo japonês - Exposição no Museu Nacional da Natureza e Ciência, Tóquio, Japão. (CC BY-SA 3.0).


Os lobos eram animais bastante venerados na cultura japonesa, e eram chamados também de “cães-da-montanha”. Os japoneses consideravam as montanhas lugares sagrados, e por esse motivo escolheram ergue seus templos aos pés das montanhas em veneração ao deus (Kami, 神) que habitava nela.


Os “cães-da-montanha” viviam nas regiões montanhosas, e eram considerados animais sagrados, por vezes, chamado de deus da montanha (山の神). Eles eram os guardiões sagrados que cuidavam das montanhas, florestas e seus habitantes.



As lendas japonesas contam que às vezes o lobo deixava para o homem o resto de sua caça de presente, mas para que ele pudesse levá-la teria que deixar algo em troca, caso contrário, quebraria a relação harmoniosa entre eles, e assim, surgiria a “ada” (inimizade para com os humanos). Outra lenda japonesa é a okuri-ōkami, ela conta que quando um homem atravessa uma floresta, um lobo o acompanha durante todo o trajeto, e só o deixando ao se aproximar da vila. A companhia de um lobo durante o percurso era vista como uma proteção ao viajante.


Essa criatura folclórica pode ter sua inspiração no lobo japonês, um animal do tamanho de um border collie com orelhas curtas que viveu no Japão por milhares de anos até ser exterminado pelos humanos no início do século XX. Recentemente, cientistas começaram a estudar o DNA antigo extraído dos ossos desse lobo e dizem que podem ter resolvido o antigo enigma de onde ele veio. Outra população de lobos desaparecida também deu origem aos cães modernos, que são os lobos cinzentos do Leste Asiático.


É provável que todos os cães de hoje descendam de uma única população de lobos cinzentos. Mas a questão crucial é exatamente onde e quando esses lobos viveram. Um grande problema enfrentado pelos especialistas é que provavelmente a população original desapareceu, apagando as pistas genéticas sobre as origens caninas.



O geneticista Peter Savolainen do Royal Institute of Technology em Estocolmo, na Suécia, que não fez parte do estudo, afirma que o estudo “é muito meticuloso”. Ele completa ainda que, a pesquisa acrescenta evidências à ideia de que os cães surgiram no Leste Asiático, em vez da Europa ou no Oriente Médio, como defende alguns especialistas.


Muitos descrevem o enigma do lobo japonês (Canis lúpus hodophilax) como sendo um dos maiores mistérios da história da zoologia no Japão. Assim como a rota que ele percorreu para chegar ao Japão, as origens do animal não são claras. No início deste ano foi publicado um estudo que analisou geneticamente restos mortais de um único lobo japonês. Ao analisar as amostras, os pesquisadores descobriram que ele estava fortemente relacionado a uma linhagem de lobos siberianos, há muito considerada extinta. Pesquisas recentes também sugerem que os cães podem ter sua origem na Sibéria.

Uma equipe de especialistas liderada por Yohey Terai, biólogo evolucionário da Universidade de Graduação para Estudos Avançados em Hayama, no Japão, extraíram e sequenciaram os genomas de nove lobos japoneses, incluindo os crânios descobertos nos telhados de antigas casas, onde os moradores os colocavam para proteção. Os pesquisadores sequenciaram também os genomas de 11 cães japoneses. Eles comparam todas as sequências disponíveis de uma variedade de raposas, coiotes, dingos, vários lobos e cães modernos de todo o mundo.



Segundo Terai, o lobo japonês difere de qualquer outro lobo ou cão. Entretanto, quando Terai e sua equipe formaram árvores evolutivas, descobriram que o ramo contendo a linhagem do lobo japonês estava muito próximo dos cães do que qualquer outro animal. “É um relacionamento de irmão”, diz Terai.


“Se for verdade, isso é muito importante”, diz Laurent Frantz, um geneticista evolucionista da Universidade Ludwig Maximilian de Munique que não esteve envolvido com o trabalho. “É a primeira vez que vimos uma população de lobos próxima aos cães.”

Os dados do estudo sugerem que cães e lobos japoneses tem o mesmo ancestral: o lobo cinzento que vivia em algum lugar do Leste Asiático. O novo estudo indica que as teorias para a domesticação de cães, como a da Europa Ocidental ou do Oriente Médio, não se sustentam. Há duas teorias que se aproxima de um provável local de surgimento dos cães: a primeira é de que os cães surgiram no sudoeste da Ásia; a outra sugere que eles seriam originários do nordeste da Sibéria.

É importante ressaltar que nem todos os cães têm sobreposição genética igual aos lobos japoneses. Os cientistas descobriram que os cães orientais, incluindo os caninos como o dingo e o cão da Nova Guiné, compartilham até 5% de seu DNA com os lobos japoneses. Já os cães ocidentais como pastores alemães e labradores compartilham menos material genético. Provavelmente os lobos japoneses se reproduziram com cães que se deslocavam para o leste após uma suposta divisão leste-oeste. Logo depois, esses cães orientais teriam cruzado com cães ocidentais, deixando apenas uma fraca assinatura de lobo japonês nos cães ocidentais.


Terai não sabe quanto e como o DNA do lobo japonês influencia os cães modernos. Segundo ela, uma versão mutante de um fez com que os ratos comam compulsivamente. Esse comportamento voraz pode ter sido benéfico para os cães japoneses que viviam em aldeias agrícolas, onde a carne era escassa, mas os vegetais e o arroz tinham em abundância. Além dos hábitos alimentares, outros genes podem ter mudado o formato do corpo ou rosto dos cães.

“Este é um grande passo em frente”, diz Frantz. “Os lobos são a chave para entender os cães, então vai ser muito emocionante ver aonde isso vai dar”. Mesmo com essas novas descobertas, será preciso mais dados para dizer com certeza que cães e lobos japoneses compartilham o mesmo ancestral direto.

Fonte: Science



bottom of page