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Novo estudo sugere que os gregos antigos não matavam bebês “fracos”

Atualizado: 13 de mar. de 2023

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A seleção de crianças em Esparta, Jean-Pierre Saint-Ours. História em Destaque

A seleção de crianças em Esparta, Jean-Pierre Saint-Ours. (Domínio Público).


Nos quase 2.000 anos, o conto de Plutarco sobre a sociedade grega antiga se tornou uma ideia comumente aceita. Plutarco escreveu em sua biografia, Life of Lycurgus, escrita por volta de 100 d.C., como os antigos espartanos subjugaram seus recém-nascidos através de um conselho de anciãos para inspeção. Os bebês “aptos e fortes” sobreviveram, mas aqueles considerados “deformados” foram deixados do lado de fora para morrer. Os eugenistas nazistas também usaram essa lenda grega para justificar a morte de pessoas com deficiência.


A Dra. Debby Sneed do Departamento de Clássicos da California State University, Long Beach, recentemente publicou um estudo na revista Hesperia, onde ela afirma que o abandono de bebês com deficiência não era totalmente aceito na cultura grega antiga, mesmo que ocorresse eventualmente.



Por mais que tenha ocorrido o infanticídio na maioria das sociedades – inclusive nos tempos modernos – muitas dessas culturas o evitaram. No caso dos gregos, pouco há para mostrar que eles eram diferentes.


Sneed explica que Plutarco escreveu sobre eventos que aconteceram 700 anos antes dele nascer. Esse mesmo relato do historiador antigo menciona outro rei espartano que era baixo e “tinha as pernas prejudicadas”, mesmo assim, continuava sendo um bom líder. Por volta de 400 a.C., um médico anônimo aconselhou outros médicos sobre como ajudar adultos com problemas desde o nascimento. As antigas pistas textuais sugerem que as crianças nascidas aparentemente diferentes viveram até a idade adulta como indivíduos produtivos da sociedade.


As evidências arqueológicas sustentam essa visão, mostrando que bebês com problemas de saúde foram cuidados muito além das primeiras semanas de vida. Por exemplo, os restos mortais de mais de 400 crianças foram descobertos em 1931, em um poço em Atenas, na Grécia. Em 2018, pesquisadores analisaram os restos mortais e descobriram que esses bebês tinham apenas alguns dias, o que é comum para os padrões típicos da alta mortalidade infantil no mundo antigo, eliminando a ideia de infanticídio seletivo.



Entre os esqueletos dos bebês encontrados em Atenas, um deles pertencia a uma criança de 6 a 8 meses com hidrocefalia grave. Nesse caso, o fluido espinhal fica preso no crânio e exerce pressão sobre o cérebro, resultando em uma forma de crânio visivelmente anômala e geralmente é fatal, mesmo hoje.


Ao escavar túmulos por toda a Grécia, arqueólogos encontraram pequenas garrafas de cerâmica globulares com bicos, alguns com marca de dente de bebê nos bicos. Essas mamadeiras antigas e extremamente raras podem ter sido usadas para alimentar crianças com fenda palatina, e são particularmente encontradas em sepulturas de bebês e crianças menores de um ano. Também há estatuetas representando adultos com deformidades, incluindo fenda palatina grave.


Todas essas evidências sugerem que os bebês nascidos com membros anormais ou deficiências foram regularmente alimentados e na maioria das vezes sobreviveram até a idade adulta. “Temos muitas evidências de que as pessoas não mataram ativamente crianças”, diz Sneed, “e nenhuma evidência de que mataram.”



O assunto gerou vários debates, e grande parte dos estudiosos não aceitam fazer essa afirmação. Segundo o professor de história antiga Christian Laes, da Universidade de Manchester, “você poderia definir toda a sociedade grega e romana antiga como se livrando de bebês? Absolutamente não”. “Mas a ausência de evidências não significa que o fenômeno em si, estava ausente.” Laes argumenta que exemplos etnográficos de outras sociedades mostram que os bebês eram abandonados ou mortos constantemente se as famílias não tinham dinheiro para criá-los. A vergonha da sociedade pode ajudar a explicar por que uma prática comum de abandonar recém-nascidos pode não ser mencionada em fontes mais antigas.


Alguns pesquisadores sugerem traçar uma linha entre o infanticídio e a exposição mais passiva, embora não haja evidências do assassinato de bebês ativamente, os bebês indesejados podem ter sido largados em um local público ou ao ar livre, talvez na esperança de serem encontrados e criados por outras pessoas. “Fazer com que questionemos nossas suposições é muito importante, e [Sneed] trouxe muitas evidências”, diz Beaumont. “Mas não tenho certeza se posso concordar ser uma prática comum criar filhos deficientes.”


Segundo Sneed, os críticos devem ter a responsabilidade de trazer mais do que suposições modernas sobre os deficientes na Grécia antiga. Hoje as pessoas tendem a desvalorizar os deficientes, supomos que os gregos no passado fizeram o mesmo. “Existem muitas evidências diferentes que mostram as pessoas investindo tempo e recursos no cuidado de bebês doentes ou deficientes”.



Fonte: Science

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