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Naufrágio do lendário submarino U-111 da Primeira Guerra Mundial encontrado na Virgínia

Atualizado: 6 de mai. de 2023

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Submarino alemão U-111. Imagem National Archive.

Submarino alemão U-111. Imagem National Archive.


No dia 5 de setembro, feriado do Dia do Trabalho nos EUA, o explorador Erik Petkovic estava em sua cabine a bordo do R/V Explore a cerca de 65 km da costa da Virgínia, operando o ROV (em inglês Remoted Operated Vehicle), um veículo operado remotamente que estava a uma profundidade de cerca de 120 metros. Repentinamente, algo estranho chamou sua atenção, após analisar as imagens ele descobriu que havia localizado os destroços do último submarino alemão da Primeira Guerra Mundial encontrado em águas americanas – o SM U-111. Este submarino fez parte da frota Unterseeboot (U-Boat) que aterrorizou marinheiros Aliados durante a guerra.



Com o fim da Primeira Guerra Mundial, uma tripulação americana levou o submarino alemão através do Atlântico em uma viagem pelas águas geladas onde o RMS Titanic havia naufragado sete anos antes. “É um daqueles notáveis contos perdidos de sobrevivência”, diz Petkovic.


Pesquisadores acreditam haver mais de uma dúzia de submarinos alemães naufragados em águas americanas de ambas as Guerras Mundiais. Petkovic faz parte de um pequeno número de “mergulhadores técnicos” que exploram profundidades que excedem o limite padrão de 36 metros realizados por mergulhadores recreativos.



De acordo com registros da Marinha Americana, o U-111 afundou em 31 de agosto de 1922, na Virgínia, em 488 metros de água – ultrapassando e muito o limite de qualquer mergulhador humano. Mas Petkovic e a equipe do RV Explorer chegariam a uma conclusão diferente – e uma descoberta histórica.


A história do submarino U-111

O submarino U-111 de 72 metros foi encomendado pela Marinha Imperial Alemã em 1917, com a missão de patrulhar as águas do Atlântico Norte. Ele afundou três navios mercantes dos Aliados até a rendição do Kaiser em novembro de 1918. Após a assinatura do armistício, todos os submarinos que conseguissem navegar foram enviados para o porto britânico de Harwich, no Mar do Norte, onde a maioria virou sucata. Uma pequena parte foi dissecada pelas forças aliadas para descobrir a tecnologia por trás dos motores a diesel alemãs, dos periscópios e giroscópios.


Por ordem do presidente Woodrow Wilson, a Marinha Americana enviou seis submarinos capturados para os EUA, percorrendo a Costa Leste com o propósito de arrecadar fundos para os Victory Bonds (Títulos da Vitória). Posteriormente, os submarinos seriam estudados, em seguida rebocados para o mar e afundados. Esses submarinos deveriam viajar em um comboio que partiria de Harwich e seguiria pelos Açores até chegar a Nova York – no máximo em 23 de abril de 1919.



O submarino U-164 ficou sob o comando do tenente-comandante Freeland Daubin, mas ele descobriu que o submarino havia sido sabotado por agentes alemães e aliados preocupados em manter as tecnologias fora das mãos uns dos outros. Depois de uma conversa amigável, Daubin convenceu os britânicos a trocar o submarino sabotado pelo U-111. Devido à troca, Daubin e sua equipe de 32 tripulantes foram atrasados por conta de reparos. O comboio partiu para os Açores em 3 de abril de 1919, sem Daubin. Quando finalmente o U-111 ficou pronto, quatro dias depois, o comandante tomou uma decisão fatídica: em vez de seguir o comboio, ele escolheu o caminho mais curto – e mortal – através do Atlântico pela rota repleta de icebergs onde o RMS Titanic havia afundado sete anos antes.


Com a mudança de rota, as probabilidades de um desastre eram enormes. A maioria da tripulação nunca havia pisado em um submarino antes, nem operado com sinalização inimiga em língua estrangeira. Os americanos da época navegavam com uma bússola magnética, enquanto os submarinos alemães eram equipados com uma bússola giroscópica moderna e desconhecida.


O U-111 estava equipado com um rádio de baixar potência com alcance limitado que havia sido recuperado. Após quatro dias navegando pelo Atlântico, um tampão instalado secretamente por alemães cedeu. Esse tampão foi uma forma de sabotar o submarino para ele afundar após ser capturado – e quase deu certo – mas graças ao esforço heroico do imediato do artilheiro-chefe, a embarcação e a tripulação foram salvas. Após resolver o problema de sabotagem, a tripulação do U-111 enfrentaria fortes tempestades e densas neblinas que ocultaram as estrelas, usadas pela tripulação para calcular sua localização. Havia também os icebergs que eram uma ameaça constante, assim como a falta de comida. O suprimento de alimentos fornecido pelos britânicos – supostamente o suficiente para três semanas – acabou no oitavo dia, restando apenas geleia, batatas e picles para o restante da viagem gélida num submarino sem aquecimento.



Após uma semana navegando, a tripulação determinou que o U-111 estava a cerca de 1600 quilômetros de Nova York, mas o submarino estava com pouco combustível, então um plano de emergência foi elaborado. A tripulação decidiu que uma vela seria içada se o motor da embarcação falhasse. O submarino entrou no porto de Nova York em 19 de abril – apenas 12 dias após a partida da Inglaterra e dois dias antes da frota de submarinos chegar aos EUA. O submarino fez sua viagem da Vitória, atraindo multidões por onde passava.


Investigando naufrágios

Inspirado desde sua adolescência pela descoberta do Titanic por Robert Ballard em 1985, Erik Petkovic começou a mergulhar explorando os naufrágios nos Grandes Lagos, tornando-se um talentoso mergulhador e autor de vários livros sobre-exploração de naufrágios. Ela entrou para o Serviço Secreto e trabalhou na Casa Branco durante o governo Obama. "A procura por naufrágios exigem as mesmas habilidades básicas de investigação", diz Petkovic.


A maioria dos especialistas acreditava haver 13 submarinos alemães em águas norte-americanas – cinco da Primeira Guerra Mundial e oito da Segunda Guerra Mundial. Eles avaliaram que o submarino U-111 estava em águas muito profundas, perdido para os exploradores.


Baseando-se em estudos anteriores de Gary Gentile, pioneiro do mergulho profissional, Petkovic iniciou sua pesquisa em possíveis locais para o naufrágio do U-111. Trançando a rota do U-111 do Reino Unido para os EUA, após testes ao redor de Cuba e, finalmente, desmontagem e remontagem por engenheiros da Marinha americana. O plano dos americanos era afundar o submarino na costa da Carolina do Norte em 1921 como parte da chamada "frota Billy Mitchell". Mitchel era um general de brigada da Força Aérea americana que desejava destruir uma frota de submarinos, mostrando a superioridade da nova Força Aérea sobre a Marinha alemã. Mas, o submarino foi rebocado para Norfolk, onde foi afundado, e erguido uma segunda vez em 1922. O U-boat foi levado para o Atlântico em 31 de agosto desse mesmo ano, e explodido.



Nos registros da Marinha americana, o U-111 havia afundado em um local com cerca de 500 metros de profundidade. Mas os dados pesquisados pelo mergulhador Petkovic sugeriam um local diferente. Em 2021, Petkovic se uniu ao mergulhador Rusty Cassway, que comada uma embarcação de mergulho em Cape May, Nova Jersey, para ler as várias coordenadas. Cassway consultou um banco de dados de locais onde os pescadores relataram ter perdido suas redes devido aos “troncos pendurados”. Estes locais identificam obstruções submarinas que as embarcações de pesca devem evitar, mas para os mergulhadores, eles indicam potenciais naufrágios.


A "Expedição do Cargueiro Russo"

A costa do atlântico é um local de águas escuras, frias e fortes correntes, onde uma pequena quantidade de mergulhadores que exploram naufrágios se arrisca. Esse número se torna ainda menor e mais competitivo quando se trata de caça a naufrágios "não descobertos" em profundidades extremas.


Petkovic tinha que manter o mínimo de pessoas informadas sobre o suposto local do naufrágio do U-111, contando apenas para poucos amigos de confiança, enquanto planejava sua primeira expedição. Ele perguntou a sua pequena equipe qual seria o tipo de naufrágio mais chato que poderiam imaginar. “Alguém respondeu: ‘cargueiro russo’, e essa resposta pegou. Então tivemos a ‘Expedição de Cargueiros Russos’.”, conta Petkovic. Esse se tornou o codinome da missão.


Navio explorer lançando o ROV em busca do U-111

ROV é lançado ao mar com a missão de inspecionar os destroços do U-111. (Crédito da imagem: Fotografia de Benjamin Lowy para National Geographic). Divulgação.


A expedição ocorreu um junho, e até o lançamento do R/V Explore, parte da tripulação a bordo não tinha conhecimento do verdadeiro objetivo da missão – localizar o U-111, último submarino não descoberto da Primeira Guerra Mundial nos EUA. Quando o Explore chegou no local suspeito, o ROV foi logo lançado ao mar, controlado por Ross Baxter, usando um laptop e um controle de videogame. Baxter explica que era “como encontrar uma agulha no palheiro”. Assim que o naufrágio apareceu na tela, a equipe correu para examinar as fotografias de arquivos do U-111. Após analisar os canhões dianteiro e traseiro, e outras características do submarino, eles puderam comparar com a aparição no monitor de vídeo.



Espiando as escotilhas

Petkovic e sua equipe tinham que obter mais informações sobre o naufrágio durante o verão, antes que o clima mais imprevisível de outono chegasse. Então, eles planejaram enviar o ROV de volta ao U-111 com três mergulhadores. Mergulhos em profundidade extrema exigem medidas extremas. Os mergulhadores dessa expedição não poderiam gastar mais de 20 minutos explorando os destroços antes de iniciar a subida lenta de quatro horas até a superfície, cada um com 136 kg de equipamento. Uma subida muito rápida nessa profundidade poderia fazer com que o sangue borbulhasse devido à inalação do gás, podendo até levar a morte.


Exatamente no dia em que o afundamento do U-111 completou 100 anos e 5 dias, o R/V Explore partiu de Cape May com destino ao local do naufrágio. No dia do mergulho, o tempo parecia bom, mas chegaram notícias de duas fatalidades na comunidade de mergulho em naufrágios. A equipe resolveu que apenas o ROV entraria na água. Após centenas de metros de profundidade, o ROV encontrou a torre de comendo do submarino. O veículo deslizou ao longo do casco espiando pelas escotilhas abertas do submarino. Analisando as imagens, a equipe pode observar a posição das escotilhas e outros detalhes que confirmaram se tratar realmente do U-boat. Petkovic e sua equipe planejam enviar mergulhadores para o U-111 ano que vem, e finalizar o modelo fotogramétrico 3-D do submarino. A localização exata da embarcação é mantida em segrego por toda a equipe.

Aaron Hamilton, um historiador marítimo, destaca a importância da descoberta: “O fato de ter sido localizado e agora poder ser documentado e fotografado é uma conquista significativa, já que, o U-111 marca um momento importante na evolução tecnológica dos submarinos”, diz ele.



Fonte: National Geographic

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