Foto de Juliette Robert, Haytham-Rea/ Redux. Divulgação
Odense na Dinamarca, cidade natal do escritor Hans Christian Andersen, criou homenagem à história e imaginação. Os contos mais famosos de Andersen são: “A Polegarzinha”, “O Patinho Feio”, “A Pequena Sereia” e “A Roupa Nova do Rei”, continuam nas telas e nos palcos muito tempo após terem sido escritos no século XIX.
Para os fãs e leitores existe uma nova maneira de apreciar essas magníficas histórias. Foi construído um museu avaliado em U$64 milhões na cidade de Odense, Dinamarca. Segundo o diretor de criação do museu, Henrik Lübker, o museu não é uma homenagem somente à época de Andersen, mas “uma homenagem ao mundo dos contos de fadas, sempre relevante e contemporâneo”.
O museu H.C. Andersen’s Hus, foi projetado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma e inaugurado em 30 de junho de 2021. O complexo expõe os contos de fadas do autor com uma apresentação semelhante à de Willy Wonka em “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, com instalações arquitetônicas, som e iluminação em áreas internas e externas. Lübker conta que “o mundo dos contos de fadas não é linear, é sinuoso, e muitas coisas são ocultas aos nossos olhos, é assim que o museu foi projetado, com espaços secretos e curvas que mantém os visitantes intrigados”.
Uma das instalações faz alusão ao conto da Pequena Sereia quando ela deseja fazer parte do mundo além do oceano, os visitantes veem o céu através de um tanque de água transparente. Em outro andar do museu, as pessoas poderão criar poções mágicas, fazer um ninho de cisnes ou encenar em teatro de fantoches.
O objetivo principal do museu é estimular as pessoas a acreditarem no poder da imaginação. “Contos de fadas possibilitam a transformação do mundo real no qual o leitor vive”, afirma Dame Marina Warner, romancista, mitógrafa e atual presidente da Sociedade Real de Literatura. “Coisas ruins acontecem, naturalmente, mas sempre é possível superá-las. A essência do conto de fadas está carregada de ânimo.”
A cidade do lendário Andersen
Hans Christian Andersen nasceu em 1805, em Odense, Dinamarca. As ruas das cidades serviram de inspiração para suas melhores obras. É difícil passear por uma praça ou festival e não despertar a imaginação, em uma cidade perfeita para a expressão: cidade de faz de conta, com torres decoradas com chapéus de bruxa, ruas tortuosas, casas em tons pastel, jardins reais e um palácio branco como a neve.
A cidade de Odense está localizada na ilha Fiôna e parece um conto de fadas nórdico. A lenda conta que a cidade foi o lar de Odin, deus mitológico da sabedoria, da guerra, da poesia e da magia, durante a era viking. Suas muralhas alinhavam-se às margens dos rios para garantir proteção a cidade dos invasores costeiros. Os restos mortais do último rei viking da Dinamarca, Canuto IV, assassinado na Igreja de St. Alban no século XI, está enterrado sob a cidade, assim como o que restou das fortalezas.
Com cercas vivas, pergolados e pontes, Eventyrhaven é literalmente, o Jardim de Contos de Fadas. Próximo, há uma trilha de esculturas de contos em tributo a Andersen, começando com uma escultura em bronze do escritor perto do rio Odense, seguindo pelo caminho tortuoso os visitantes encontrarão um barco de papel, borboletas nas cores do arco-íris, cisnes selvagens, um cavalo-marinho, um limpador de chaminés e uma agulha de cerzir até chegar a uma escultura de A Pequena Sereia.
O museu é o destino final desse mapa literário. Projeto da câmara municipal de Odense que resolveu seguir um plano de longo alcance para reestruturar o centro da cidade. A cidade de Odense se tornou a capital mundial de contos de fadas através da tradição de contar história preservada por seus cidadãos e na motivação pelo Hygge, palavra dinamarquesa para situações que proporcionam bem-estar.
A importância cultural dinamarquesa do Hygge se tornou uma tendência de estilo de vida e uma união de características culturais para promover aconchego e atenção plena – acender velas, ficar próximo à lareira com uma xícara de chocolate ou um livro. Para o professor Lasse Horne Kjaeldgaard, Andersen é mais responsável pelo conceito de Hygge do que muitos dinamarqueses imaginam.
“Os contos de fadas são elaborados para que sejam lidos em voz alta próximo à lareira em um ambiente familiar, e essa tradição se popularizou na Dinamarca na década de 1830”, conta Kjældgaard. “Aqueles foram anos terríveis em nossa história, pois estávamos do lado errado das Guerras Napoleônicas, após isso, houve uma tendência de olhar para dentro e focar na vida familiar, em vez de olhar para o restante do mundo.”
Kjaeldgaard conta que a influência de Andersen em todo o mundo é impressionante, e surpreendentemente na China. “Ele era um dos autores preferidos de Mao Zedong e continua sendo um elemento básico do currículo escolar chinês”. O partido comunista chinês considerou como uma acusação à sociedade capitalista os contos “A Roupa Nova do Rei”, “O Patinho Feio” e “ A Pequena Vendedora de Fósforos”.
A Dinamarca é um país perfeito para ser enfeitado com personagens de contos de fadas, onde os visitantes podem explorar diversos locais que serviram de inspiração para Andersen, desde as dunas de urze de Skagen até os bosques de carvalho de Jægersborg Dyrehave repletos de cervos. É possível visitar também a propriedade real Gisselfeld Kloster, que inspirou “O Patinho Feio” e os penhascos de Stevns Klint, onde o escritor Andersen escreveu “The Elf Muond” (O Monte dos Elfos, em tradução livre).
Os passeios para os turistas também incluem visitar o Canal Nyhavn de Copenhague (onde Andersen viveu por um tempo), os belos Jardins Tivoli (inspiração para “O Rouxinol e o Imperador da China”) e no parque Langelinie os visitantes apreciarão a estátua da Pequena Sereia.
Já a ilha de Fiôna abriga cerca de 124 castelos e mansões, incluindo um dos lugares preferidos de Andersen, o Castelo Egeskov, com seus labirintos geométricos de cerca viva. “Se existisse um mapa do mundo, não com fronteiras políticas ou geográficas, mas que representasse a tradição dos contos de fadas, haveria um enorme contorno em volta da Escandinávia com Odense no centro”, enfatiza Warner.
Os contos de fadas de Andersen podem ser mais importantes do que nunca. “As crianças têm tantos problemas para lidar — da opressão política, passando pelas mudanças climáticas, até a violência doméstica — e os contos de fadas as ajudam a ter esperança”, ressalta Warner. “Esse é o espírito dos contos de fadas e o motivo pelo qual eles, e Hans Christian Andersen, continuarão a perdurar.”
Fonte: National Geographic
Britannica