Coussens, Penrhyn W. Um livro de histórias infantis. Jessie Willcox Smith, ilustradora. Nova York: Duffield and Company, 1911.
O conto de fadas João e Maria (do original Hänsel und Gretel) faz parte da coleção de contos dos Irmãos Grimm. Assim como outros contos de fadas, esse conto tem origem na tradição oral, transmitida oralmente de geração em geração. Como parte de seus esforços para preservar o folclore alemão, os irmãos Grimm coletaram e registraram várias histórias.
Essa história faz parte do folclore alemão, com personagens, cenários e temas típicos da região. O tema de João e Maria reflete os problemas enfrentados por muitas pessoas em tempos de fome e escassez na Alemanha.
O Conto
Próximo a uma grande floresta, vivia um pobre lenhador com sua mulher e os dois filhos. O menino chamava-se João (Hänsel) e a menina Maria (Gretel). A família tinha pouco para comer e certa vez, quando uma grande fome atingiu a região, o lenhador não conseguia mais fornecer nem mesmo o pão de cada dia.
Certa noite, enquanto estava deitado em sua cama, preocupado com seus problemas, o pobre homem suspirou e perguntou à esposa: “O que será de nós. Como poderemos alimentar meus filhos se não temos nada para nós mesmos?”
“Você sabe o que deve ser feito”, respondeu à madrasta. “Amanhã, de manhã cedo, levaremos as duas crianças para a parte mais densa da floresta, acenderemos uma fogueira para elas e daremos a cada uma um pedacinho de pão, depois deixaremos elas sozinhas e iremos trabalhar. Assim, as crianças não encontraram o caminho de volta para casa e nos livraremos delas.”
Desenho para colorir do Conto João e Maria.
No entanto, o lenhador não queria nem pensar na possibilidade de deixar seus filhos sozinhos na floresta repleta de animais selvagens. “Eu não farei isso. Como poderia abandonar meus próprios filhos sozinhos na floresta? Eles logo seriam despedaçados por animais selvagens”, disse o lenhador.
“Oh, seu tolo”, falou a madrasta, “então todos morreremos de fome. Só o que você fará é alisar as tábuas dos nossos caixões.” E o lenhador não teve um minuto de paz até concordar com o plano.
“Mas sinto uma enorme tristeza e pena das pobres crianças”, disse o homem.
Durante a conversa entre o lenhador e sua esposa, as crianças ainda não haviam adormecido devido à fome e acabaram ouvindo o plano da madrasta. Então, Maria, chorando, disse a seu irmão João: “Acabou para nós!” E João respondeu: “Fique quieta, Maria, não se preocupe, eu sei o que fazer”.
E assim que o pai e a madrasta adormeceram, João se levantou, abriu a porta dos fundos e saiu. A lua brilhava intensamente e as pedras brancas na frente da casa brilhavam como moedas de prata. João se abaixou e encheu os bolsos com elas. Em seguida, ele retornou para dentro, mas antes de deitar-se, falou com sua irmã: “Não se preocupe, durma bem, Deus não nos abandonará”.
João recolhendo pedras à noite. Otto Kubel. (CC BY).
Pela manhã, antes mesmo do nascer do sol, a madrasta acordou as duas crianças. “Levantem-se, seus preguiçosos. Vamos para a floresta buscar lenha.” Então, cada uma das crianças recebeu um pedacinho de pão. “Aqui está algo para o meio-dia. Não comam mais cedo, pois vocês não comerão mais”.
Maria colocou o pão em seu avental, pois os bolsos de João estavam repletos de pedras que ele havia coletado na noite passada, e todos partiram para a floresta. Após caminhar por um tempo, o menino começou a parar repetidas vezes e a olhar para trás, em direção à casa. Percebendo a inquietação do menino, seu pai o alertou. “Preste atenção, João e não esqueça de caminhar”. E João prontamente lhe respondeu: “Oh, pai, estou olhando para o meu gato branco, que está sentado no telhado querendo se despedir de mim”. A madrasta resolveu participar da conversa dizendo: “Seu idiota, esse não é o seu gato, é o Sol matinal brilhando na chaminé”.
João marcando o caminho com pedras. Carl Offterdinger - 1885.
No entanto, João não estava olhando para o Sol, mas sim deixando cair as pedras brilhantes do bolso ao longo do caminho. Quando os quatro finalmente chegaram a um local distante no meio da floresta, o pai das crianças pediu que elas procurassem alguns. “Filhos, juntem um pouco de lenha e eu farei uma fogueira para não congelarem”. João e Maria juntaram alguns galhos secos – uma pilha tão alta quanto um pequenino monte. Um dos meninos ateou fogo nos galhos e, quando as chamas estavam queimando bem, a madrasta pediu às crianças que ficassem próximas à fogueira. “Deitem-se próximo ao fogo e descansem. Nós, os adultos, cortaremos a lenha em outro local e, quando terminarmos, voltaremos para buscá-los”, disse a madrasta.
João e Maria são abandonados na floresta. Otto Kubel, 1922. (CC BY).
Seguindo os conselhos de sua madrasta, João e Maria sentaram-se perto do fogo e, ao meio-dia, cada um comeu seu pedacinho de pão. Ouvindo golpes em uma madeira, as crianças pensaram que fosse seu pai que estava trabalhando por perto. No entanto, o barulho não era de um machado cortando madeira, e sim, um galho que o lenhador havia amarrado em uma árvore, e com o vento soprando de um lado para o outro, acabava causando as batidas. As crianças esperaram ali por muito tempo, até seus olhos se casarem e elas acabaram adormecendo profundamente.
Quando as crianças finalmente acordaram, já era noite e Maria começou a chorar, dizendo: “João, como vamos sair dessa floresta?” Então, João lhe respondeu: “Espere um pouco até a lua aparecer e encontraremos o caminho de volta”. Depois que a lua cheia apareceu, João pegou a mão de Maria e eles seguiram as pedras que brilhavam, mostrando-lhes o caminho. Ao chegar em casa, as crianças bateram na porta e, quando a madrasta abriu e viu os irmãos, ficou furiosa. “Vocês, crianças malvadas, por que dormiram tanto tempo na floresta? Achávamos que vocês não queriam voltar para casa”, disse ela.
João e Maria vagando pela floresta, abraçados. Alexandre Zick, 1880.
Quando seu pai e sua madrasta dormiram, João se levantou e tentou apanhar as pedrinhas como havia feito antes, mas a madrasta havia trancado as portas e o menino não conseguiu sair. Mesmo não conseguindo sair da casa, João foi ao quarto de sua irmã e a consolou: “Não chore, Maria, durma bem. Deus nos ajudará!”
Na manhã seguinte, bem cedo, a madrasta veio, tirou as crianças da cama e entregou seus pedacinhos de pão – menos do que da última vez. No caminho para a floresta, João esmigalhou o pão no bolso e jogou os pedaços no chão.
Assim como na outra vez, João seguia pelo caminho sempre olhando para trás. “Por que você está sempre parando e olhando em volta? Continue andando em frente”, disse seu pai.
Então, o menino respondeu: “Vejo meu pombo no telhado. Ele quer se despedir de mim”.
“Tolo, esse não é o seu pombo, é o sol da manhã brilhando no telhado.”
As crianças foram levadas mais e mais floresta adentro, onde jamais haviam estado em toda a vida. Mas João conseguiu jogar todas as migalhas de pão pelo caminho.
Mais uma vez, uma grande fogueira foi acesa, e a madrasta disse: “Sentem-se aqui, crianças. Se vocês ficarem cansados, podem dormir um pouco. Cortaremos a lenha e voltaremos para buscá-los à noite quando terminarmos.”
Ao meio-dia, Maria compartilhou seu pão com João, que havia espalhado a sua parte pelo caminho. Então, as crianças adormeceram e a noite chegou, mas ninguém veio buscá-los. Quando os irmãos acordaram, novamente, João confortou sua irmã dizendo: “Maria, espere até a lua aparecer e poderemos ver as migalhas de pão que espalhei e elas nos mostrarão o caminho de volta para casa”.
Assim que a lua surgiu, as crianças se levantaram e seguiram pelo caminho, mas não encontraram as migalhas, pois os pássaros que voam pela floresta haviam comido durante o dia. João disse a sua irmã que encontrariam o caminho para casa, mas eles não o encontraram. Os irmãos caminharam a noite inteira, e no seguinte inteiro até o anoitecer, mas nada de encontrar o caminho para sair da floresta. Os irmãos já estavam com muita fome, pois haviam comido apenas algumas pequenas frutas que encontraram pela frente. Exaustos e sem aguentar caminhar mais, eles se deitaram embaixo de uma árvore e adormeceram. Na terceira manhã desde que saíram de casa, João e Maria começaram a andar novamente, mas só conseguiram ir cada vez mais fundo na floresta.
Ao meio-dia, as crianças viram um passarinho-branco pousado em um galho. Ele cantava tão lindamente que os irmãos pararam para ouvir. Quando o pássaro terminou seu canto, abriu as asas e voou na frente deles. João e Maria o seguiram até chegar a uma casinha, onde a ave pousou no telhado. Quando as crianças se aproximaram, tiveram uma enorme surpresa: a casinha era toda feita de pão, com telhado de bolo e as janelas eram de açúcar transparente.
“Vamos nos servir de uma boa refeição”, disse João. “Como um pedaço do telhado e você, Maria, come parte da janela. Isso será ótimo!” João estendeu a mão e quebrou uma parte do telhado para sentir qual era o gosto, enquanto Maria estava próxima das janelas mordiscando-as. De repente, uma voz suave saiu lá de dentro: “Mordisca, mordisca, ratinho. Quem está mordiscando minha casa?” E as crianças responderam: “O vento, o vento. A criança celestial.”
Sem se importar com a voz, os irmãos continuaram a comer. João, que gostou muito do sabor do telhado, arrancou outro pedaço grande; Maria retirou uma vidraça redonda inteira. De repente, a porta se abriu e uma mulher, velha e apoiada em uma muleta, saiu rastejando. João e Maria ficaram tão assustados, que deixaram cair o que seguravam.
Ao ver as crianças, a velha balançou a cabeça e disse: “Oh, queridos filhos, quem os trouxe aqui? Apenas entrem e fiquem comigo. Nenhum mal lhes acontecerá”. Ela os pegou pela mão e os conduziu para dentro de casa. Depois serviu-lhes uma saborosa refeição: leite e panquecas com açúcar; maçãs e nozes. Em seguida, ela fez duas lindas camas decoradas. João e Maria foram para a cama, acreditando estarem no céu. No entanto, a velha apenas fingiu ser amigável, na verdade, ela era uma bruxa malvada que estava à espreita de crianças. A bruxa construiu sua casa de pão apenas para atraí-los. Logo após ser capturada, a criança era morta, cozinhada e comida pela velha; aquele dia era um dia para comemorar, pois havia aparecido duas crianças de uma vez.
João e Maria encontram a casa da Bruxa. Otto Kubel, 1922. (CC BY).
As bruxas têm olhos vermelhos e não conseguem enxergar muito bem de longe, mas têm o olfato como o dos animais selvagens e sabem quando os humanos estão se aproximando. Quando João e Maria se aproximaram da casa da bruxa, ela riu maliciosamente e pensou: “Agora eu os tenho. Eles não vão fugir de mim”.
Na manhã seguinte, antes dos irmãos acordarem, a bruxa se levantou, foi para o quarto e olhou para os irmãos deitados ali, tão inocentemente, com as bochechas grandes e rosadas. “Eles serão uma boa refeição”, murmurou a velha. Então, ela agarrou João com sua mão atrofiada e o carregou até uma pequena cabana, onde o trancou em uma jaula. Por mais que ele chorasse, não havia ninguém por perto que pudesse ajudar.
A ilustração mostra João trancado, enfiando um ossinho pela grade para enganar a bruxa.
Em seguida, a bruxa sacudiu Maria e gritou: “Levante-se, preguiçosa! Pegue água e cozinhe algo bom para seu irmão. Ele está trancado lá fora na cabana e deve ser engordado. E quando estiver gordo, vou comê-lo”. A pequena Maria começou a chorar, mas não havia nada que pudesse ser feito, a não ser seguir as ordens da bruxa. Agora, João recebia as melhores coisas para comer, todos os dias. No entanto, Maria não recebia nada além de cascas de lagostins.
Todas as manhãs, a bruxa ia até a cabana para ver como João estava. “João, estique o dedo para eu ver se você já está gordo”, dizia ela. Mas João havia separado um ossinho durante as refeições para enganar a velha. Ao invés de colocar o seu dedo para fora da jaula, ele colocava o osso, e a velha, que não enxergava direito, pensava ser o dedo do menino. No entanto, a bruxa se perguntava por que o menino não engordava.
Quatro semanas haviam se passado e João ainda estava magro, então, a impaciência tomou conta da velha e ela não quis mais esperar. “Ei, Maria!”, gritou a bruxa. “Apresse-se e pegue um pouco de água. Quer João esteja gordo ou magro, amanhã vou matá-lo e cozinhá-lo.”
A pobre irmãzinha foi obrigada a carregar a água para cozinhar João. Soluçando e com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela disse: “Querido Deus, por favor, ajude-nos. Se ao menos os animais selvagens tivessem nos devorado na floresta, teríamos morrido juntos.” Em meio a risadas sombrias, a bruxa disse a Maria que o seu pedido não a ajudaria em nada. “Poupe sua saliva”, disse ela.
Na manhã seguinte, Maria teve que acordar bem cedo, desligar a chaleira com água e acender o forno. “Primeiro vamos assar o pão”, disse a bruxa. “Já preparei o forno e sovei a massa”. Alguns minutos depois, a bruxa empurrou Maria na direção do forno, onde saltavam chamas ardentes, e disse: “Entre e veja se já está quente o suficiente para colocar a massa do pão”. A bruxa pretendia fechar a garotinha no forno, assá-la e comê-la. No entanto, Maria teve uma ideia e disse à bruxa que não sabia como entrar no forno.
“Menina estúpida”, disse a bruxa. “A abertura é grande o suficiente. Veja, até posso entrar”. Então, a velha se arrastou e enfiou a cabeça no forno. Foi nesse momento que Maria deu-lhe um empurrão, fazendo com que a velha caísse no forno. Depois, a garotinha fechou a porta de ferro, prendendo-a com uma barra. A bruxa começou a uivar assustadoramente e morreu queimada. Maria correu para a cabana onde estava seu irmão, destrancou a jaula e gritou: “João, estamos salvos. A velha bruxa está morta”. O pequeno João saltou para fora da gaiola e abraçou sua irmã – os dois eram só felicidade. Agora, já passado todo o perigo, entraram na casa da bruxa e, ao andar pela casa, foram descobrindo baús cheios de pérolas e pedras preciosas. “São melhores do que as pedrinhas que costumo juntar”, disse João, enchendo os bolsos. Maria também pegou as pedras preciosas e encheu o seu avental. “Vou levar um pouco para casa também”, disse ela.
Maria empurrando a bruxa para dentro do forno. Ilustração de Otto Kubel.
Após encher os bolsos, João chamou sua irmã e avisou que eles deveriam partir. “Devemos sair desta floresta perigosa”. Eles caminharam por algumas horas até chegar a um grande riacho. “Não podemos atravessar. Não consigo ver uma passarela ou ponte”, disse João. Então, Maria avistou um pato e disse a seu irmão: “Não há barcos aqui, mas há um pato branco nadando. Se eu perguntar, talvez ele nos ajude a atravessar”.
Então Maria gritou:
“Patinho, patinho,
Aqui estão Maria e João.
Nem há nenhuma passarela ou ponte,
Leve-nos em suas costas.”
O patinho branco veio até os irmãos que estavam na margem do riacho e João subiu primeiro. Em seguida, ele pediu a Maria que se sentasse ao seu lado. No entanto, ela se recusou a subir. “Isso seria muito pesado para o patinho, deveria levar um de cada vez” – foi isso que o patinho fez.
João montado nas costas do pato. Mildred Lyon, 1922. (Domínio Público).
Quando os irmãos estavam em segurança do outro lado do riacho, eles caminharam um pouco e a floresta tornou-se familiar para João e Maria. Finalmente, as crianças avistaram sua casa ao longe e correram o mais rápido possível, entraram na casa e abraçaram seu pai. O pobre lenhador não teve um momento de alegria desde que deixou as crianças na floresta. Agora, as crianças não precisavam mais se preocupar com a madrasta – ela havia morrido.
Maria sacudiu seu avental, espalhando pérolas e pedras preciosas pela sala e João acrescentou, jogando várias outras que estavam em seus bolsos.
João e Maria reencontram o pai. Otto Kubel, 1922 ou anterior. (CC BY).
João, Maria e seu pai estavam transbordando de felicidade. Agora todas as suas preocupações haviam terminado e eles viveram felizes juntos.
“Minha história acabou, um rato correu. E quem o pegar pode fazer para si um grande gorro de pele.” (Irmãos Grimm)
Bibliografia
GRIMM, Jacob; GRIMM, Wilhelm. Hänsel und Grethel: Kinder- und Hausmärchen. Dieterichschen Buchhandlung, 1857.
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