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Baía de Fundy em New Brunswick duranta a maré baixa. Imagem de Graham Hobster por Pixabay
Em um lugar onde ocorrem as marés mais altas do mundo você pode encontrar fósseis fantásticos, de pegada de dinossauros a libélulas gigantes.
Na Baía de Fundy em New Brunswick, Canadá, as marés sobem e recuam mais de 12 metros duas vezes por dia. Quando a maré baixa, pesquisadores e visitantes podem ver onde dinossauros caminharam e as centopeias gigantes antigas rastejaram, basta seguir suas pegadas. Em meio a íngremes encostas e penhascos rochosos, esse fenômeno está revelando um dos mais ricos locais de fósseis da América do Norte.
A maioria das descobertas são feitas por pesquisadores, mas estudantes, moradores locais e até visitantes também realizaram descobertas significativas no local. A ajuda de toda a sociedade é importante em um lugar onde uma peça desse quebra-cabeça da história antiga pode desaparecer tão rapidamente quanto surge.
Matt Stimson, curador do Museu de New Brunswick, em Saint John, explica que: “é uma corrida contra a maré”. “A Mãe Natureza está fazendo o trabalho de escavação para nós. Algo novo é continuamente exposto, mas também pode ser apagado”, acrescenta Stimson.
Abundância de registros fósseis
Os primeiros fósseis de New Brunswick surgiram na década de 1840, quando a mineração de carvão na região revelou uma flora e fauna fossilizadas. Desde então, essa abundância paleontológica é reconhecida pelos cientistas. Ao longo das três eras evolutiva da Terra, o local mantém condições favoráveis ao crescimento e desenvolvimento de vida invertebrada; uma tundra dominada por gigantes como mastodontes; e uma floresta tropical que deu origem aos dinossauros.
Ao longo das praias ocorreram recentes descobertas revelando pegadas de vertebrados e invertebrados presos em pedra por toda a extensão da costa atlântica. “Quando paramos de procurar apenas por ossos, as descobertas foram reveladoras”, diz Stimson.
Pegadas fósseis descobertas no Geoparque Global da UNESCO Stonehammer de New Brunswick. Imagem do Museu de New Brunswick. Divulgação.
A paleontóloga e palinóloga, Olivia King, pesquisadora associada do Museu de New Brunswick, fez várias descobertas significativas nos últimos três anos. Esses achados incluem a mandíbula de um proto-réptil do tamanho de uma salamandra e as pegadas do dinossauro mais antigo, provavelmente o menor, do continente (cerca de cinco centímetros de comprimento).
A Nova Escócia (província a sudeste de New Brunswick) é conhecida como “Galápagos da era do carvão” devido às suas árvores fossilizadas, répteis e trilobitas do Período Carbonífero (cerca de 358 a 299 milhões de anos). Isso levou muita gente a achar que todos os fósseis extraordinários estavam sendo descobertos nessa região. “Mas o que estamos encontrando em New Brunswick é equivalente ou mais antigo do que os locais da Nova Escócia”, diz King.
Nos últimos anos, vários estudantes fizeram importantes descobertas em New Brunswick incluindo dois universitários locais, Luke Allen e Rowan Norrad, que encontraram centenas de artefatos. Entre os achados estão a marca da asa de uma libélula do tamanho de um falcão e pegadas de anfíbios que datam de Romer´s Gap, uma mudança não documentada no registro fóssil de tetrápodes.
Caçando fósseis
Em New Brunswick, os visitantes podem se aprofundar na história fóssil em diversos parques e reservas ao longo da costa, aventurando-se em caminhas e excursões de remo, acompanhados de um guia. Quando ocorre o recuo da maré (chamada maré baixa), os turistas podem caminhar ao longo dos lamaçais do fundo oceânico e localizar fósseis na praia. Quando esse fenômeno acontece a água recua até 198 metros.
Não é obrigatório que você esteja acompanhado de um guia para se aventurar na costa de New Brunswick a procura de fósseis, mas é extremamente importante que você consulte uma tabela de marés por segurança; você tem um intervalo de cerca de seis horas entre o ponto de maré mais baixo e mais alto, quando a água sobe trinta centímetros a cada seis minutos, podendo inundar uma praia em menos de uma hora.
Diversas pegadas fossilizadas são descobertas incrustadas em penhascos e rochas espalhadas na areia pela maré. Há uma leia local determinando que todas as descobertas devem ser deixadas no local e relatadas ao Museu de New Brunswick, que enviará pesquisadores para avaliá-las. Se os cientistas declararem que a descoberta é significativa, seu nome aparecerá registrado no museu.
O Geoparque Stonehammer da UNESCO, oferece o lado antigo de New Brunswick, assim como o Museu de New Brunswick, onde mais de 23.000 fósseis, incluindo um mastodonte jovem que morreu há cerca de 80.000 anos. Seguindo 48 km a leste até Fundy Biosphere Region UNESCO, você encontra mais de 1 milhão de acres de floresta, terreno acidentado e litoral que se estende desde a vila Saint Martins até próximo da fronteira da Nova Escócia.
Litoral de Saint Martins, Baía de Fundy. Imagem de DL Earle por Pixabay.
Seguindo de carro por cerca de uma hora e meia para o norte, você verá penhascos de arenito vermelho em Dennis Beach e Waterside Beach, que revelaram antigas pegadas de tetrápodes e proto-dinossauros. Nesses locais os visitantes podem observar com a maré baixa, tunicados ou ascídias.
Cape Enrage, que fica a pouco mais de 100 km a nordeste de Saint John, tem suas águas turbulentas que se agitam sobre os recifes na maré baixa. O parque oferece passeios de tirolesa, rapel e fósseis de praia, onde você pode visitar samambaias e grandes Calamites.
Rochas de Hopewell. Imagem de Graham Hobster por Pixabay.
O Parque Provincial Hopewell Rocks é a principal atração de New Brunswick, localizado a cerca de 32 km a nordeste de Cape Enrage. Ele contém a maior concentração de formações rochosas independentes da província esculpidas durante a última era glacial. Ao longo da praia há estromatólitos de 340 milhões de anos, formados pelo depósito em camadas, geralmente de calcário, formado pelo crescimento de algas verde-azuladas.
Fonte: National Geographic