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Fósseis de Homo sapiens de 300.000 anos atrás foram encontrados no Marrocos

Atualizado: 18 de set. de 2023


reconstrução computadorizada de fósseis de Jebel Irhoud - História em Destaque

Uma reconstrução computadorizada de fósseis de Jebel Irhoud. © PHILIPP GUNZ, MPI EVA LEIPZIG. Divulgação.


Por décadas, o Grande Vale do Rifte da África Oriental (Rift Valley) é local de buscas pela origem de nossa espécie. Agora, estudiosos voltam seus olhares para o oeste do Marrocos: eles refizeram a datação de um crânio há muito esquecido em uma caverna chamada Jebel Irhoud. Os resultados revelaram uma surpreendente descoberta de 300.000 anos atrás. Além da análise no crânio, os arqueólogos escavaram e desenterraram novos fósseis e ferramentas de pedra no local. Essa nova datação é a evidência mais antiga do Homo sapiens, atrasando o aparecimento de nossa espécie em 100.000 anos.


"Essa coisa é mais velha do que qualquer outra coisa apresentada como H. sapiens ", diz o paleoantropólogo John Fleagle, da Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook.

Essas novas descobertas sugerem um mosaico de características, incluindo morfologia facial, mandibular e dentária que alinha o material de Jebel Irhoud com humanos modernos anteriores, e morfologia neurocraniana e endocraniana mais primitiva, indicando que nossa espécie evoluiu com traços faciais modernos, enquanto a parte traseira do crânio permaneceu alongada como a de humanos arcaicos.


Em 1961, próximo à costa oeste do Marrocos, um grupo de mineiros a procura de um mineral chamado barita, descobriram um crânio fóssil completo em Jebel Irhoud. Inicialmente o crânio foi considerado como sendo de um Neandertal africano devido a sua forma primitiva, mas em 2007, os cientistas publicaram uma data de 160.000 anos baseados na datação radiométrica de um dente. O resultado da datação sugere que o fóssil representava um remanescente de uma espécie arcaica, possivelmente H. heidelbergensis, que pode ser um ancestral tanto dos neandertais quanto do H. sapiens.


O paleoantropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin, em Madison, explica que o caminho evolutivo de nossa espécie pode ter começado mais cedo. Geneticistas datam a separação dos humanos e de nossos primos mais próximos, os neandertais, de pelo menos 500.000 anos atrás.



Crânios de H. sapiens datados de 160.000 anos atrás foram encontrados em Herto, no Grande Vale do Rifte da Etiópia; mais ao sul, em Omo Kibish, duas calotas cranianas foram datadas de cerca de 195.000 anos atrás. Isso os tornam os membros mais antigos de nossa espécie, até agora.


O francês Jean-Jacques Hublin, paleoantropólogo que estudou a mandíbula encontrada em Jebel Irhoud, foi uma das poucas pessoas que continuou a refletir sobre a importância do crânio. Ele conseguiu financiamento para reabrir a caverna (atualmente destruída), que fica a oeste de Marrakesh, Marrocos. Em 2004, a equipe de Hublin iniciou novas escavações na esperança de conseguir datar camadas de sedimentos intactas e amarrá-las à camada original já descoberta.



Com o grupo de especialistas, estão novos crânios, mandíbulas, dentes e ossos da perna e do braço de ao menos cinco indivíduos, incluindo uma criança e um adolescente. Ao analisar detalhadamente as estatísticas dos fósseis, Hublin e Philipp Gunz descobriram que o novo crânio possui rugas nas sobrancelhas, e seu rosto se encolhe sob o crânio em vez de se projetar para frente, semelhante ao das pessoas de hoje. Mas esses fósseis também possuíam uma caixa cerebral alongada e dentes “muito grandes”, como as espécies mais antigas de Homo, escrevem os autores.


 

O alvorecer pan-africano do Homo sapiens

Os novos fósseis de Jebel Irhoud no Marrocos e suas novas datações indicam que a espécie humana moderna surgiu em toda a África. Essas novas descobertas estão ajudando os cientistas a determinar como esses fósseis selecionados dos últimos 600.000 anos estão relacionados aos humanos modernos.



 

Esse tipo de padrão foi identificado em supostos ancestrais neandertais, como fósseis de 400.000 anos na Espanha. Eles possuem crânios arcaicos alongados com traços neandertais em seus rostos. "É um argumento plausível que o rosto evolua primeiro", diz o paleoantropólogo Richard Klein, da Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia.


A revisão da datação do crânio foi obtida de ferramentas de sílex queimadas que também confirmam o controle do fogo pelo povo de Jebel Irhoud. O arqueólogo Daneil Richter explica que obteve 14 datas por meio de uma técnica de termoluminescência, que mediu quanto tempo passou desde que os minerais cristalinos da pederneira foram aquecidos pelo fogo. O resultado foi uma idade média de 324.000 anos, com uma faixa de 280.000 a 350.000 anos. Essa revisão se encaixa com outra nova datação de 286.000 anos (com uma faixa de 254.000 a 318.000 anos), usando a técnica de radiométria aprimorada de um dente. A nova descoberta sugere que a data anterior estava errada.

“Assim que observamos a data, percebemos que agarramos a própria raiz de toda a linhagem da espécie”, diz Hublin.

Os pesquisadores encontram dificuldades para nomear os crânios, já que são tão transitórios: a equipe os chama de Homo sapiens primitivo.


Diversos pesquisadores acreditavam que humanos arcaicos como H. heidelbergensis inventaram as ferramentas encontradas pela equipe de Hublin, mas as novas datas sugerem que esse tipo de kit de ferramentas, localizados em toda a África, pode ser uma marca registrada do H. sapiens.


A equipe de Hublin acredita que essas novas descobertas irão ajudá-la a compreender alguns crânios mal datados de toda a África, cada um com sua própria combinação de características modernas e primitivas, como, por exemplo, um crânio parcial antigo em Florisbad na África do Sul, datado de 260.000 anos atrás, possivelmente é de um H. sapiens.


“Isso mostra um fenômeno pan-africano, com pessoas se expandindo e se contraindo em todo o continente por um longo tempo”, diz Hublin.

Fonte: Science


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