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Estudo revela quem censurou as cartas de Maria Antonieta

Atualizado: 26 de mar. de 2023

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Estudo revela quem censurou as cartas de Maria Antonieta - História em Destaque

Maria Antonieta em um vestido de musseline. Elisabeth Louise Vigée-LeBrun. (Domúnio Público).


No início de 1792, na véspera das Guerras Revolucionárias Francesas, quase 50 cartas secretas foram trocadas entre a Rainha Maria Antonieta e seu confidente e suposto amante, o conde Axel von Fersen, da Suécia, e elas sobrevivem nos Arquivos Nacionais Franceses.


O mistério é que, 15 das cartas eram ilegíveis, encobertas por redações feitas com redemoinhos de tinta preta. Recentemente, pesquisadores revelaram as palavras abaixo de 45 dessas alterações usando raios x. Eles descobriram também a identidade do indivíduo que realizou as alterações.



A professora de literatura francesa da Universidade de Oxford, que não fez parte do estudo, diz que, é “uma revelação” a ideia de que von Fersen fez as redações. Os estudiosos acreditavam que as correspondências haviam sido censuradas na segunda metade do século XIX – possivelmente pelo sobrinho-neto de von Fersen – para proteger a reputação de Antonieta e Fersen. Agora os acadêmicos precisarão repensar a omissão e as razões por trás disso.

Von Fersen e Maria Antonieta se conheceram em 1774 no Palácio de Versalhes, e esse relacionamento ficou mais próximo nos anos seguintes, gerando especulações que continuam até hoje. Além de amigo, Von Fersen foi também um aliado político que ajudou a organizar uma tentativa de fuga da família real francesa, que ficou conhecida como a fuga para Varennes, em junho de 1791. No entanto, essa tentativa falhou, então Luís XVI e Maria Antonieta passaram a ser vigiados de perto. Mesmo assim, a rainha ainda conseguiu enviar e receber cartas de Von Fersen entre 1791 e 1792. O Arquivo Nacional Francês adquiriu a coleção de cópias das cartas em 1982. Essas cópias secretas foram feitas pelo conde Von Fersen e, após a decapitação da rainha Antonieta em outubro de 1793, sua família manteve muitas delas em segredo.


Retrato de Hans Axel von Fersen - História em Destaque

Retrato de Hans Axel von Fersen - 1800. Carl Frederik von Breda. (Domínio Público).


Entretanto, um desconhecido rabiscou dezenas de passagens em 15 cartas trocadas entre von Fersen e Maria Antonieta antes que o Arquivo Nacional as comprasse. Durante a década de 1990, especialistas tentaram ler as palavras, mas a quase completa sobreposição de tinta tornou isso impossível. Em 2014, Anne Michelin, analista de materiais no Centro de Pesquisa em Conservação do Museu Nacional de História Natural da França, realizou uma nova tentativa. Ela passou quase um ano testando diversas abordagens tentando ler o texto.

Michelin finalmente decidiu que sua melhor chance de consegui ler o texto era usando uma técnica conhecida como espectroscopia de fluorescência de raios X, não destrutiva que usa radiação de raios X para analisar a composição elementar de uma amostra. Até 2018, Michelin não havia conseguido o equipamento que precisava. Após um ano de trabalho cuidadoso ela revelou pela primeira vez, oito passagens redigidas das cartas.



A tecnologia de raios X descobriu passagens censuradas em cartas trocadas entre Maria Antonieta e seu suposto amante, o conde Axel von Fersen, incluindo essa passagem em uma carta de janeiro de 1792 escrita pela rainha francesa.


Para revelar as palavras ocultas pelos rabiscos, Michelin e sua equipe isolaram e mapearam diferentes elementos na tinta através de raios X. Em seguida, a equipe teve que fazer a separação da tinta usada no texto original e a tinta usada nas redações. Se uma das tintas tivesse cobre, era fácil criar imagens separadas.


Mas as tintas eram geralmente semelhantes para revelar as palavras, isolando um único elemento. Sendo assim, a equipe teve que criar “receitas” grosseiras para diferentes passagens no texto, analisando cada camada de tinta. Para sete das cartas, a semelhança das tintas era tão grande que nem mesmo essa estratégia funcionou.



Michelin explica que as composições químicas das tintas podem mudar mesmo nos documentos. Muitas das vezes, a equipe teve que usar diferentes estratégias de análise, de uma palavra para outra. Após várias horas no laboratório, eles conseguiram descobrir 45 passagens em oitos cartas.


“É um trabalho lindo”, diz Uwe Bergmann, físico da Universidade de Wisconsin, em Madison, que ajudou a desenvolver técnicas de fluorescência de raios-X usadas para ler palimpsestos históricos, manuscritos em que o novo texto é escrito sobre uma escrita antiga. “Eu realmente aprecio a quantidade de esforço que eles fizeram.”


No começo, quando o Arquivo Nacional pediu que a equipe de Michelin descobrisse a identidade do censor, os pesquisadores insistiram que não sabiam dizer. Mas quando analisamos todos os dados, “era tão óbvio”, diz Michelin.



Para copiar cartas posteriores, von Fersen usou uma tinta muito parecida para censurar as anteriores, sugerindo ser o próprio von Fersen quem estava redigindo as cartas. Michelin e sua equipe ainda não conseguiu revelar com certeza os motivos de Von Fersen, mas eles especulam que Fersen pode ter coberto o texto para proteger a honra da rainha.


As passagens reveladas são vastamente sentimentais, frases como “você que eu amo” e “fez meu coração feliz”. No entanto, a revelação dessas frases, aparentemente íntimas não dizem nada de novo sobre o relacionamento de Maria Antonieta e von Fersen, diz Seth. Os pesquisadores já sabiam que Antonieta tinha “uma afeição muito profunda por ele”.


Os pesquisadores dizem que no futuro, as técnicas utilizadas nesse estudo poderão ser usadas em combinação com algoritmos de máquina para transcrever textos antigos automaticamente, tornando mais fácil entender esses documentos importantes.



Fonte: Science


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