Notícia
Pesquisa comprova que restos mortais que foram encontrados enterrados na Catedral de Magdeburg em 2008 são os de Eadgyth, princesa anglo-saxã, que faleceu em 946 d.C. A descoberta foi confirmada por cientistas do Departamento de Arqueologia da Universidade de Bristol. A evidência científica decisiva veio dos dentes preservados na mandíbula superior – são os ossos mais antigos de um enterro real anglo-saxão.
A princesa Eadgyth era filha de Edward, o Grande, e meia-irmã de Athelstan, o primeiro rei da Inglaterra. Ela e sua irmã foram enviadas por Athelstan para se casar com Otto I, do Sacro Império Romano, com o propósito de que ele tivesse a oportunidade de escolher com qual gostaria de casar-se.
Após se casar, Eadgyth passou a maior parte de sua vida em Magdeburg, e após sua morte foi sepultada em uma tumba na Catedral de Magdeburg em 1510.
Os arqueólogos alemães que abriram essa tumba acreditavam que ela estivesse vazia. No entanto, eles descobriram que ela continha uma caixa Chumbo, com a seguinte descrição: “EDIT REGINE CINERES HIC SARCOPHAGVS HABET...” (Os restos mortais da Rainha Eadgyth estão neste sarcófago...).
Quando os arqueólogos abriram o sarcófago, encontraram restos parciais de esqueletos, juntamente com material têxtil e resíduos orgânicos. Anteriormente, os ossos haviam sido movidos ao menos três vezes, esse era o maior desafio para os pesquisadores: mostrar que os restos mortais – que poderiam ter sido substituídos por outros – eram realmente da rainha Eadgyth.
“Ossos medievais eram movidos com frequência e muitas vezes misturados, por isso foi necessária alguma ciência excepcional para provar que eles são de Eadgyth. É incrível que tenhamos conseguido fazer isso usando as técnicas analíticas mais recentes”, disse Harald Meller, do Escritório Estadual de Gestão do Patrimônio e Arqueologia, Saxônia-Anhalt.
Os estudo antropológico confirmou que os restos mortais pertenciam a um único indivíduo do sexo feminino, que morreu entre 30 e 40 anos. Essa pesquisa foi realizada na Universidade de Mainz pelo professor Kurt Alt. Uma das evidências mostrou que a mulher era uma amazona frequente, sugerindo sua nobreza.
Infelizmente, o esqueleto estava incompleto, faltando mãos e pés, e grande parte do crânio, do qual restou apenas a mandíbula superior. As perdas possivelmente ocorreram devido à sua coleção como relíquias medievais. Após analisar os isótopos dos ossos, os pesquisadores descobriram que ela tinha uma dieta rica em proteínas, incluindo grande quantidade de peixe. Esses resultados corroboram para a ideia de que ela era uma dama aristocrata de alto status.
A datação por radiocarbono dos tecidos na caixa de chumbo apresentou o intervalo de datas que coincidem com o período de Eadgyth. No entanto, o mesmo processo realizado nos ossos mostraram uma datação 200 anos a frente, representando um grande problema. Esperava-se também que o DNA pudesse ser extraído do esqueleto, mas isso se mostrou impossível, devido ao mau estado de preservação da caixa.
A evidência fundamental veio da análise dos dentes preservados na mandíbula superior. A medida que os dentes vão se formando ocorre um processo de mineralização. Então, os pesquisadores utilizaram uma técnica que mede os isótopos de estrôncio e oxigênio mineralizados nos dentes. Essas amostras foram analisadas no Departamento de Arqueologia da Universidade de Bristol e no Instituto de Antropologia da Universidade de Mainz.
Segundo o Dr. Alistair Pike, professor sênior do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Bristol: “Os isótopos de estrôncio em pequenas amostras de esmalte dentário foram medidos por microamostragem, usando um laser, onde foi possível reconstruir a sequência do paradeiro de uma pessoa, mês a mês, até os 14 anos.”
Com base nos resultados foi possível fazer uma “triangulação” da localização dos primeiros 14 anos de vida dessa mulher. Foram comparados os resultados com os valores isotópicos medidos em dentes de outros sepultamentos de Magdeburg por Dra. Corina Knipper, pesquisadores da equipe do professor Alt, na Universidade de Mainz.
“Os isótopos nos dentes supostamente de Eadgyth são completamente diferentes daqueles nas pessoas locais de Magdeburg. Este indivíduo não pode ter passado a infância em Magdeburg”, disse Knipper.
Os pesquisadores descobriram que os resultados de isótopos correspondiam exatamente aos registros históricos da infância e adolescência de Eadgyth em Wessex.
“Eadgyth parece ter passado os primeiros oitos anos de sua vida no sul da Inglaterra, mas mudou de domicílio com frequência, combinando proporções bastante variáveis de estrôncio em seus dentes. Somente a partir dos nove anos os valores isotópicos permanecem constante”, explica Mark Horton, professor de arqueologia na Universidade de Bristol.
Os pesquisadores acreditam que Eadgyth morou em diversos lugares pelo reino seguindo seu pai, o rei Edward, o Velho. Em 919 d.C., seus pais se separaram e Eadgyth e sua mãe foram banidas para um mosteiro em Winchester ou Salisbury.
Comumente em enterros cristãos, os bens funerários não acompanhavam os restos mortais de Eadgyth. No entanto, eles foram enrolados em sedas extremamente cara e raras, além do uso de corantes muito caros da época.
Fonte: Universidade de Bristol