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Arqueologia no Vale da Morte na Polônia

Atualizado: 31 de mar

Matéria


Arqueologia no Vale da Morte na Polônia - História em Destaque

Fotografia do funeral das vítimas assassinadas no 'Vale da Morte' (fonte: Museu Histórico-Etnográfico de Julian Rydzkowski em Chojnice). Divulgação.


Contexto histórico

Entre outubro e novembro de 1939, cerca de 30.000 – 35.000 cidadãos poloneses da província de Pomerânia no norte da Polônia foram executados pelos nazistas antes da Segunda Guerra Mundial. Este massacre ficou conhecido como o Crime de Pomerânia de 1939. Historiadores poloneses apontam que no início da Segunda Guerra Mundial, cerca de 12.000 pessoas foram mortas nas florestas próximo a Piaśnica e outras 7.000 nos bosques de Szpęgawsk. Os crimes devem ser entendidos como o primeiro passo dos genocídios cometidos pelos nazistas posteriormente e durante a guerra. O norte de Chojnice, foi um dos 400 locais onde ocorreram execuções em massa durante o outono sangrento de 1939. Essa região foi apelidada pela população local de ‘Vale da Morte’.



Neste mesmo local, em 1945, ocorreu outro grande massacre, segundo o depoimento de uma testemunha logo após o fim da guerra. Ela descreveu prisioneiros (cerca de 600) poloneses de Bydgoszcz, Toruń, Grudziądz e aldeias vizinhas, sendo levados para o Vale da Morte pela Gestapo durante o mês de janeiro de 1945. A testemunha também contou que os corpos das vítimas foram queimados para ocultar as provas do massacre. No outono do mesmo ano foram realizadas exumações em alguns restos mortais encontrados, mas apenas 168 foram localizados. Arqueólogos iniciaram um projeto chamado “Uma arqueologia do Vale da Morte” para tentar mapear, descobrir e analisar os restos materiais desses crimes da Segunda Guerra Mundial.


Um estudo publicado na revista científica Antiquity, apresentou detalhes sobre o que aconteceu com as 500 vítimas dos nazistas, encontradas em uma vala comum em Chojnice, na província da Pomerânia.


Evidência dos crimes da Alemanha nazista no Vale da Morte

Segundo os arqueólogos, a pesquisa consistiu em: investigação; pesquisa etnográfica, pesquisa arqueológica não invasiva acima do solo; pesquisa arqueológica subterrânea e não invasiva; e escavações de teste.


Os pesquisadores analisaram mais de 1000 páginas de documentação sobre os assassinatos em massa cometidos pelos nazistas em Chojnice. Estes arquivos estavam em instituições polonesas e incluíam relatórios de exumações, tentativas de descobertas de valas comuns, registros de enterros oficiais das vítimas no Cemitério das Vítimas dos Crimes Nazistas em Chojnice.


Os arqueólogos combinaram métodos não invasivos e escavação. Foram analisados resultados de LIDAR (Light Detection And Ranging ou tecnologia de detecção e alcance de luz) e imagens aéreas históricas. Esses dados permitiram documentar linha de trincheiras cavadas pelo exército polonês em uma forma de se preparar de um possível ataque do Terceiro Reich. Pouco tempo após cavadas, essas valas foram utilizadas pelos nazistas para ocultar os corpos de pessoas assassinadas pelo regime. As vítimas foram jogadas ou caíram após a execução. Em seguida, os corpos nas trincheiras foram cobertos com terra.


Várias anomalias foram documentadas em uma área de quase 4ha através de levantamentos com radar de penetração no solo, levantamento de resistividade e levantamento eletromagnético. Os pesquisadores acreditam que essas anomalias podem estar relacionadas com os massacres no Vale da Morte no período da Segunda Guerra Mundial. Um total de 349 artefatos foram localizados em oito trincheiras abertas em vários locais na periferia de Chojnice. Entre os objetos descobertos estão balas de mosquete e botões civis que podem ser datados do século XIX.



A maioria dos artefatos faz parte do contexto de assassinatos em massa ocorridos no outono de 1939 e na segunda metade de janeiro de 1945. Os arqueólogos afirmam ter encontrado o local onde as vítimas de janeiro de 1945 foram assassinadas e acreditam que elas tenham sido queimadas. Confirmando o depoimento de testemunhas, foram descobertos fragmentos de madeira bem preservados, segundo os quais, os corpos e a madeira foram embebidos com uma substância inflamável e incendiados. Um fato que chama a atenção dos pesquisadores é a presença de objetos valiosos pertencentes às vítimas, indicando que os corpos não foram roubados, e permitindo a identificação de indivíduos por meio de seus bens.

Além dos 349 artefatos, pesquisadores descobrem 500 restos mortais de pessoas no Vale da Morte na Polônia. Entre os objetos estar o anel de uma mensageira do Exército da Pátria Polonês.


Objetos pessoais das vítimas assassinadas no 'Vale da Morte' na segunda quinzena de janeiro de 1945

Objetos pessoais das vítimas assassinadas no 'Vale da Morte' na segunda quinzena de janeiro de 1945: A) relógio de pulso; B) distintivo com escudo de Toruń; C) brinco (registros escritos sugerem que mulheres estavam entre as vítimas mortas no Vale da Morte); D) medalha sagrada (fotografias de A. Barejko). Divulgação.

Para os pesquisadores, a descoberta dos restos mortais das vítimas é o resultado mais importante do projeto. As vítimas desses massacres consistiam de membros do movimento de resistência polonês e teriam sido levadas para o Vale da Morte na segunda metade de 1945. Os ossos cremados das vítimas foram analisados por um antropólogo físico e perito médico forense. Novas tentativas de identificação das vítimas por meio de amostragem de DNA estão previstas. Após a conclusão das análises, os restos mortais serão enterrados novamente no Vale da Morte e o local se tornará um cemitério oficial de guerra.



Bibliografia

KOBIAŁKA, Dawid et al. An Archaeology of ‘Death Valley’, Poland. Antiquity, 2021. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/antiquity/article/an-archaeology-of-death-valley-poland/297404A3A2C060EA27B9E9CC176DBC75. Acesso em: 10 nov. 2022.


Ceran, T.S. 2018. The Pomeranian Crime 1939. Warsaw: Institute of National Remembrance–Commission for the Prosecution of Crimes Against the Polish Nation.

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