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Anne Bonny

Atualizado: 10 de dez. de 2023

Artigo


Anne Bonny - História em Destaque

Gravura de Anne Bonny. Artista Desconhecido. Domínio Público.


Anne Bonny foi um pirata irlandesa-americana que atuou brevemente próximo às Bahamas e Mar do Caribe antes de ser capturada por um corsário jamaicano em 1720. Enquanto o restante da tripulação se escondia abaixo do convés, Anne (vestida como homem), sua amiga e parceira Mary Read e um homem, lutaram em sua última resistência contra as autoridades da Jamaica.



Durante a chamada Era de Ouro da Pirataria, Bonny foi uma das únicas piratas mulheres que ganhou infâmia. Outra que também caiu em desonra foi sua amiga e companheira de tripulação Mary Read.  Ambas capturadas, julgadas e condenadas à forca por pirataria, mas tiveram suas execuções adiadas por estarem grávidas. Não se sabe ao certo qual foi o destino de Anne Bonny após a sua condenação. Já Read, morreu de febre na prisão.


Praticamente tudo que se sabe sobre Anne Bonny vem do livro A General History of the Robberies and Murders of the Most Notorious Pyrates (1724), escrito pelo capitão Charles Johnson.


Vida pregressa

Anne Cormac nasceu em 1698, próximo de Cork, na Irlanda, possivelmente filha ilegítima do advogado William Cormac e de sua empregada. Quando ele se separou de sua esposa – após a descoberta da infidelidade –, foi morar com sua antiga criada, assumindo a guarda de Anne. No entanto, para manter sua filha bastarda por perto, William vestiu Anne como um menino e fingiu que ela era um aprendiz de escriturário. A partir do momento que William passou a viver com sua antiga empregada, ele começou a perder clientes, e decidiu se mudar para a Carolina do Sul, uma das colônias britânicas na América, onde se tornou um comerciante e proprietário de plantações de sucesso. Após a morte de sua mãe, Anne passou a administrar a casa da família, mas não por muito tempo. Em 1718, contra a vontade de seu pai, Anne casou-se com James Bonny, antigo pirata que deixou a vida de crimes após receber o perdão do governador das Bahamas, Woodes Rogers. Após ser deserdada por seu pai, Anne viajou para as Bahamas com seu marido em busca de trabalho. Lá ela conheceu o bucaneiro John Rackham, conhecido também como ‘Calico Jack’, abandonou o marido e partiu para o mar com Rackham.



Anne Bonny e 'Calico Jack'

Anne e Rackham se conheceram na Ilha Providence (Nassau), nas Bahamas, em fevereiro 1719, e se tornaram amantes. Rackham estava em terra aproveitando o perdão do governador Rogers. Utilizando-se de uma prática comum na época, Rackham se ofereceu para pagar ao marido de Bonny para se divorciar dela, mas James Bonny recusou. Em agosto do mesmo ano, Anne deixou o marido e viajou com Rackham no Williams, um saveiro capturado no porto de New Providence. Em setembro, o governador Rogers emitiu um mandado de prisão contra Rackham e sua tripulação, incluindo Anne Bonny, cujo pseudônimo é Ann Fulford.


Com um número limitado de capturas e uma tripulação de cerca de 20 homens, Rackham e Bonny eram piratas relativamente pequenos em comparação com outras figuras da Era de Ouro da Pirataria. Anne Bonny fazia parte de uma tripulação, provavelmente de renegados, numa época em que as mulheres eram raridades no mar. Vários capitães piratas instituíram artigos que proibiam mulheres a bordo de seus navios para evitar disputas entre a tripulação por favores sexuais. Segundo o historiador J. Rogozinski, no caso de Anne Bonny e Mary Read, “os piratas aceitavam as mulheres porque elas se colocaram à disposição de todos na pequena tripulação de Rackham” (33).



Rackham e sua tripulação atacaram navios mercantes nas águas ao redor das Bahamas e em rotas marítimas das Bermudas e Hispaniola, saqueando cargas como tabaco e pimentas – nada glamuroso.


Grávida de seu primeiro filho, Bonny pariu em Cuba, onde a criança foi abandonada antes de se juntar novamente a tripulação.


Anne Bonny e Mary Read

Nessa época, Bonny conheceu Mary Read, outra mulher pirata que havia acabado de se juntar à equipe de Rackham. Read atuou alguns anos como soldado na região da Flandres, na Bélgica, e logo depois da morte de seu marido, embarcou em um navio mercante com destino às Índias Ocidentais. Bonny e Read se tornaram amigas inseparáveis e eram consideradas os membros mais ferozes da tripulação. “Ambas eram muito perdulárias, xingavam, praguejavam muito e estavam prontas para fazer qualquer coisa a bordo” (TNA: PRO, CO 127/14).


Gravura de Mary Read - História em Destaque

Gravura de Mary Read. Domínio Público.


Ao contrário do que diz muitas das histórias sobre Bonny e Read, ambas só usavam roupas masculinas no momento da batalha, isso facilitava principalmente o uso de pistolas. Foi revelado também no testemunho em seu julgamento que elas não usavam lenços em volta da cabeça. Embora acredite-se atualmente que tenha sido utilizado pela maioria dos piratas, na verdade, era extremamente raro, ou não foi documentado o seu uso entre os homens.



Captura de Bonny e da tripulação de Rackham

Em novembro de 1720, o novo governador da Jamaica, Sir Nicholas Lawes, ordenou um ataque surpresa ao navio de Rackham e Bonny que estava ancorado na ilha. O ataque foi comandado por Jonathan Barnet (um pirata que recebeu anistia em 1717). Segundo o relatório de Lawes a Londres, os 18 piratas cortaram o cabo da âncora e tentaram fugir rapidamente, mas foram alcançados durante a noite. Rackham e o resto da tripulação se escondeu abaixo do convés, apenas Bonny, Read e outro pirata ofereceram resistência contra os homens de Barnet. Após uma breve batalha, todos foram capturados e levados para St. Jago de la Vega (atualmente, Spanish Town), na Jamaica para julgamento.


Julgamento e Consequências

Momentos importantes da vida de Bonny e Read são revelados nos documentos do julgamento, como o relato da testemunha Dorothy Thomas, que fez a seguinte descrição de um ataque:


...as duas mulheres, prisioneiras, encontravam-se então a bordo do referido saveiro, e usavam casacos de homem, calças compridas e lenços na cabeça; cada uma delas tinha um facão e uma pistola nas mãos, e xingava os homens para assassinar os depoentes; e que os piratas deveriam matá-la para evitar que ela viesse contra eles.

(Cordingly, 64)



Outro relato é de um francês que confirmou o hábito de Bonny e Read de trocar de roupa para a batalha: “quando avistavam algum navio, perseguiam ou atacavam, usavam roupas de homem, e em outras ocasiões, elas usavam roupas femininas” (Ibid.)


Apesar das evidências robustas e dos depoimentos de testemunhas de vários navios que haviam sido saqueados, todas as partes se declararam inocentes das acusações de pirataria. Durante o julgamento nenhuma defesa foi apresentada e todos foram considerados culpados. Rackham e sua tripulação foram condenados à morte em 16 de novembro de 1720, e enforcados alguns dias depois. Após a condenação de John Rackham, Bonny declarou: “Se você tivesse lutado como um homem, não seria enforcado como um cachorro” (Downie, 193). O corpo de Rackham foi pendurado em uma gaiola para apodrecer ao ar livre, a vista de todos, como um aviso a outros que pretendiam ingressar na vida de pirataria.



Bonny e Read foram julgadas separadamente dos homens. Em 28 de novembro daquele mesmo ano, as duas mulheres foram julgadas por esse mesmo tribunal, e condenadas pelos mesmos crimes: pirataria. No entanto, elas tiveram suas sentenças prorrogadas ao revelar ao tribunal que estavam grávidas. Naquela época havia leis que proibiam a execução de uma mulher grávida – o nascituro era considerado inocente -, e assim, Bonny e Read foram temporariamente autorizadas a continuarem vivas. Antes do perdão, foram realizados vários exames em ambas as mulheres para garantir que elas estivessem mesmo grávidas.



A morte de Mary Read está inscrita no Registro Paroquial do distrito de Santa Catarina como tendo morrido de febre em uma prisão jamaicana em 1721. Ela foi sepultada em 28 de abril. Com relação à Anne Bonny, não se sabe se ela ganhou a liberdade ou escapou da prisão. Independentemente de como ela conseguiu a liberdade, o que aconteceu com Bonny depois é uma incógnita. Uma lenda conta que ela se tornou amante de um ex-pirata, Robert Fenwick que levava uma vida tranquila e confortável no Castelo de Fenwick, perto de Charleston, na Carolina do Sul. Outra história sobre os últimos dias de Bonny conta que seu pai parece ter tido grande influência para obter uma rápida libertação. Logo que deixou a prisão, ela retornou para Charleston, Carolina do Sul, onde teve seu segundo filho de Rackham. No final de 1721, ela teria se casado com um homem chamado Joseph Burleigh, teve mais oito filhos e tornou-se uma mulher respeitável. Ela teria vivido na Carolina do Sul até a sua morte aos 84 anos. Ela foi enterrada em abril de 1782. Há também uma versão na qual Anne Bonny teria morrido na Jamaica no final de 1733. Há um documento paroquial registrando a morte de uma certa ‘Ann Bonny’, que poderia ser realmente a infame pirata.



Bibliografia

ROYAL MUSEUM GREENWICH. The Female Pirates: Anne Bonny, 1698-1782, and Mary Read, c. 1695-1721. [s.d.]. Disponível em: https://www.rmg.co.uk/collections/objects/rmgc-object-157040. Acesso em: 30 novembro de 2023.


Cartwrigt, Mark. Anne Bonny. World History Encyclopedia, 2021. Disponível em: https://www.worldhistory.org/Anne_Bonny/. Acesso em: 29 de novembro de 2023.

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