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American Primeval: uma história verdadeira e macabra por trás da série da Netflix


American Primeval: uma história verdadeira e macabra por trás da série da Netflix - História em Destaque

Ilustração do Massacre de Mountain Meadows. Kansas City Public Library (Domínio Público).


Tensões na fronteira, suspeitas, rebelião e assassinato em massa brutal. American Primeval, a nova minissérie da Netflix, retrata como era a vida e as mortes macabras em Utah na década de 1850. A série retrata as tensões entre os primeiros mórmons na região e o governo dos EUA, especialmente sobre o Massacre de Mountain Meadows, um ato de violência que levou à morte de 120 pessoas na fronteira oeste em 1857.



O massacre apresentado pela Netflix é de arrepiar, mas a realidade foi ainda pior. O Massacre de Mountain Meadows ocorreu durante a Guerra de Utah, após uma década de tensões e suspeitas mútuas entre os mórmons e o governo americano.


O movimento religioso da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (conhecido como mormonismo) chegou a Utah pela primeira vez em 1847, em busca de liberdade religiosa. Por muito tempo essa religião havia sido hostilizada e perseguida, e os seus praticantes – os mórmons – fugiram de Nova York, Missouri e Illinois. Em 1844, o fundador da religião, Joseph Smith, havia sido perseguido e assassinado por uma multidão antimórmon em Illinois. Posteriormente, o novo líder, Brigham Young, levou seus seguidores mais para dentro da fronteira, até o Território de Utah, região que os EUA haviam adquirido do México e do Texas após a Guerra Mexicano-Americana. Embora os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tentassem criar seu próprio estado nessa terra, propondo o “Estado de Deseret”, o governo federal americano rejeitou sua tentativa de autogoverno. Em vez disso, o Governo estabeleceu o Território de Utah, colocando Young como governador.



As relações entre colonos se complicaram durante a década de 1850. Utah foi assolado por problemas decorrentes da falta de infraestrutura, conflitos religiosos, desconfiança entre colonos e nativos americanos. O governados Joseph Young não era favorável ao que ele via como interferência federal nos assuntos mórmons. A desconfiança sobre o governo mórmon em Utah cresceu em todo o país após a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias revelar que aceitava a poligamia – uma questão social e religiosa bombástica.

Em 1857, o presidente James Buchanan iniciou o plano para expulsar Young do cargo de governador. Os grandes jornais em todo o país relatavam as crenças nada convencionais dos mórmons, enquanto Buchanan e seu gabinete declaravam Utah “em revolta” e fizeram planos para uma grande campanha militar para expulsar Young.



Quando as notícias da ofensiva federal chegaram a Young e seus seguidores, estes se colocaram na defensiva. Em agosto de 1857, temendo a perseguição que ele e seus seguidores estariam sofrendo, declarou lei marcial, e a milícia de Utah se preparou para o combate contra as tropas federais.


O território de Utah era um ponto de parada vital na rota terrestre para o oeste. Os grupos de emigrantes que seguiam para o oeste se uniam e formavam os chamados comboios de carroças, que geralmente passavam pelo Território de Utah.



Entre os membros SUD havia o temor de que eles seriam obrigados a deixar suas casas novamente. Em resposta, eles restringiram o comércio para dentro de sua comunidade. Utah se tornava um local instável e em alerta máximo, no qual seus moradores mórmons estavam prontos para o confronto.


Em agosto de 1857, uma grande caravana de carroças do Arkansas seguiu pelo Território de Utah. O cenário estava pronto para o confronto entre a milícia de Young e as tropas federais. O grupo Baker-Fancher estava indo para a Califórnia pela mesma trilha que os membros SUD acreditavam que seria o local da invasão do exército federal. Após adentrarem em Utah, os integrantes do grupo de carroças, em sua maioria metodistas, passaram a discutir as crenças religiosas e a relutância dos moradores mórmons em negociar suprimentos necessários.



Os confrontos se iniciaram após o grupo Baker-Fancher começar a encontrar colonos mórmons ameaçadores próximos de Cedar City. A pressão colocou o líder do grupo de carroças Alexander Fancher contra os líderes milicianos locais, John D. Lee e o prefeito de Cedar City, Isaac Haight.


Um grupo de moradores de Cedar City, liderados por Lee e Haight, decidiu atacar os emigrantes. Eles convocaram um grupo de nativos paiute, com o objetivo de que um incidente parecesse um ataque indígena em vez de um ultrajante dos mórmons.



Os milicianos de Young e os paiutes lançaram um ataque ao grupo Baker-Fancher em 7 de setembro de 1857. Os emigrantes defenderam suas carroças em um cerco de quatro dias. Então, no dia 11, os milicianos ofereceram aos restantes da caravana passagem segura por Utah se eles largassem suas armas. Assim que alguns emigrantes obedeceram, os milicianos iniciaram os disparos de arma de fogo.


Comboio de carroças em Mountain Meadows - História em Destaque

Comboio de carroças em Mountain Meadows. Imagem de Library of Congress. (Domínio Público).


Em 1875, Nancy S. Cates, uma das sobreviventes do massacre, lembrou que “Algumas das jovens imploraram aos assassinos... para não matá-las”. No total, 120 pessoas foram assassinadas; a maioria dos sobreviventes era de crianças, adotadas posteriormente por moradores locais. Os milicianos não tiveram misericórdia de suas vítimas, “espancando-as com suas armas e arrancando seus cérebros”, completa Cates.



Após o massacre, as evidências foram todas encobertas pelos milicianos. Apenas Lee foi processado. Inicialmente, ele tentou culpar os paiutes, posteriormente alegou que a milícia havia ordenado a morte dos colonos. Em certo momento, seu depoimento parece indicar que o massacre foi ordenado por Brigham Young. John D. Lee foi executado por um pelotão de fuzilamento em março de 1877 – no mesmo local onde ocorreu o massacre.

Como podemos notar, a Guerra de Utah não durou muito. Em 1858, Young deixou o cargo de governador de Utah, e os mórmons que haviam deixado suas casas retornaram. O Território de Utah se tornou um estado dos EUA a partir de 1896.



Segundo o historiador Richard D. Poll, a Guerra de Utah é lembrada como um “conflito custoso, perturbador e desnecessário”. No entanto, a maioria dos historiadores discute sobre o papel do Massacre de Moutain Meadows no confronto.


A brutalidade do ocorrido próximo de Cedar City foi tolerada ou mesmo planejada pelos líderes mórmons em 1857? Devido à falta de evidência, essa pergunta pode nunca ser respondida, mas a lembrança do massacre segue firme.


Fonte: National Geographic

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