Folclore
A lenda do Saci surgiu no final do século XVIII, durante o período da escravidão no Brasil, onde as escravas ou empregadas responsáveis por cuidar das crianças de seus senhores contavam esta lenda. Em algumas regiões do Brasil o Saci é considerado um ser que apronta várias brincadeiras, mas em outras regiões ele é tratado como um ser maligno.
A representação do Saci é de uma criança negra, fuma um cachimbo, tem uma perna só e usa uma carapuça vermelha na cabeça que lhe concede poderes mágicos. Seu nome vem do Tupi Guarani, e sua lenda é composta por três tipos de Sacis: o Pererê, que é preto; o Trique que é moreninho e brincalhão; e o Saçurá, com olhos vermelhos. Na crença popular, o Saci gosta de fazer travessuras do tipo: trançar as crinas dos cavalos; derramar sal na cozinha, etc. Também diz a lenda que dentro de cada redemoinho de vento tem um Saci, e se alguém conseguir jogar uma peneira dentro do redemoinho o saci será capturado e poderá ser preso em uma garrafa. A lenda conta ainda que se você conseguir pegar a carapuça do Saci poderá fazer um desejo. Se alguém for perseguido por um Saci, terá que jogar cordas contendo, nós. Ele não pode ver um nó que já quer desatar, daí então a pessoa consegue fugir.
Essa história do folclore brasileiro teve origem nas tribos indígenas do sul do Brasil, e com o passar do tempo foi sendo modificada com a incorporação de outras culturas. No início o saci era descrito como um curumim, possuía duas pernas, cor morena e tinha um rabo, lenda essa, influenciada pela mitologia indígena. Já na história influenciada pela mitologia africana, o Saci perde uma das pernas lutando capoeira, passou a usar um pito (espécie de cachimbo), e teve sua cor modificada, passando de moreno para negro. A influência europeia incorporou o gorro vermelho mágico. Essa carapuça mágica é um elemento importado da cultura europeia, retirada de modelos como: os anões e duendes que também possuem gorros encantados.
O Saci-pererê, juntamente com o Curupira, são os dois personagens mais famosos do nosso folclore. Sua versão originalmente nacional do Saci é a indígena, que o apresenta como uma ave. Existem diversas aves às quais se atribui a origem do mito, e uma delas é Matintapereira, mas existe tanta controvérsia sobre esse tema que poderemos jamais saber a verdade.
Segundo a lenda, através do seu canto trapaceiro, essa ave mística faz com que os viajantes se percam na floresta. Muitas dessas aves espalhadas por toda a América Latina, também foram convertidas, com o passar dos anos, em clones do nosso Saci (o Crispin argentino, ou o Ecaco boliviano – com o gorro vermelho – são apenas dois exemplares da enorme lista que se estende da Argentina ao México).
O Saci é apresentado algumas vezes com as mãos furadas, outro detalhe importado, retirado do seu protótipo português, o Fradinho da Mão Furada, primo-irmão da Pisadeira e de outras entidades maléficas do pesadelo. (As mãos furadas são para impedir que a vítima morra sufocada durante as suas investidas noturnas.)
Bibliografia
PEREIRA, Maria Antonieta. Lendas e Mitos do Brasil. Tela e Texto, 2007.